Quando foi construída, Brasília rompeu com o padrão da cidade tradicional brasileira, com ideais urbanísticos e arquitetônicos voltados para conceitos de modernidade e um modo de vida diferente e simbolizando um novo ciclo econômico, iniciado pelo movimento desenvolvimentista da era Vargas, que criou a Petrobras, incentivou a siderurgia nacional e a abertura econômica que permitiu a instalação da indústria automobilística na era JK.
Na história brasileira do século 20, a construção da nossa cidade só encontra paralelo na Semana de Arte Moderna de 1922: um movimento que mudou a cara da arte brasileira, inserida no contexto da expansão da urbanização, impulsionada pelos movimentos subsequentes à abolição da escravatura e a proclamação da república – a alternação política que tirou do poder a nobreza para substituí-la pela burguesia rica.
No contexto da saúde, Brasília foi logo no início uma cidade além de seu tempo e sem paralelos possíveis. O Plano Bandeira de Mello, de 1960, previa a criação de uma Fundação Hospitalar subordinada à Secretaria de Saúde e integrada por estruturas hospitalares de diferentes níveis de complexidade, além de uma rede de serviços básicos em todo o território, comodamente próximos dos locais de residência de cada família. E isso de fato foi feito.
No resto do país, havia uma multiplicidades de órgãos assistenciais, sendo que os estatais atendiam exclusivamente o trabalhador formal, o que excluía uma imensa gama de pessoas, as quais dependiam das santas casas de saúde, mantidas, em geral, por instituições religiosas e beneficentes. Salvo isso, a saúde era moeda eleitoral: uma dentadura por voto.
Aquele sistema de saúde implementado no Distrito Federal na década de 60 era como parte da profecia de Dom Bosco sobre “a cidade de onde manará leite e mel para toda a Terra.” Uma cidade de fartura e saúde. E assim permaneceu o sistema de saúde do DF por duas décadas, antes da criação do Sistema Único de Saúde proposto pela Assembleia Nacional Constituinte de 1988, quando se universalizou pelo país um modelo de assistência à saúde muito próximo ao que já existia no DF.
Neste momento, em que Brasília completa 62 anos, é oportuno lembrar que a nossa cidade foi, por um bom tempo, a vanguarda da assistência pública à saúde de sua população – tudo funcionava!
E não é outro o maior presente que poderia receber a população do Distrito Federal: a devolução de um sistema público de saúde que atenda às famílias brasilienses na medida de suas necessidades.
E meu desejo é que esse presente, o mais cedo possível, chegue: saúde para todos, com qualidade, com investimento adequado, com universalidade, perto de casa e suficiente para as necessidades de toda a nossa gente.