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Uma epidemia, uma endemia e falta de gestão crônica

Este ano, o número de casos de dengue no Distrito Federal superou em mais de cinco vezes os registros feitos no mesmo período do ano passado. A notícia foi divulgada pela imprensa, com base em dados divulgados pelo Ministério da Saúde, referentes a março. O aumento dos casos no DF segue uma tendência regional de elevação do número de casos em toda a Região Centro-Oeste.

Essa tendência não pode ser encarada, no entanto, como uma justificativa para o cenário atual. Na verdade, deveria ser determinante de maior organização e maior efetividade nas ações de enfrentamento ao surto de dengue. Diferente da pandemia da covid-19, a endemia da dengue é anual, os quatro sorotipos do vírus que podem estar em circulação já são conhecidos e as ações necessárias ao enfrentamento já foram reunidas em protocolos estabelecidos.

O que se vê, no entanto, é um tremendo descompasso e atropelo na definição de ações. A começar pela falta de reagentes e testes rápidos para diagnóstico exatamente no período crítico de disseminação da doença.

A instalação das tendas para atendimento específico aos casos suspeitos de dengue demonstrou outro grande problema que é crônico e injustificável: a falta de pessoal. O SAMU, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, chegou a disponibilizar tendas infláveis para ampliação dos postos de atendimento a casos suspeitos de dengue às superintendências regionais de saúde.

Mas houve casos em que a oferta sequer pôde ser aceita porque simplesmente não havia disponibilidade de profissionais de saúde para prestar esse atendimento sem prejudicar o funcionamento das unidades de saúde, que já funcionam com déficit de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares e demais profissionais das áreas da saúde.

E diante desse quadro – com falta de reagentes para exames, de testes rápidos e de profissionais de saúde – o que fica claro é que existe uma subnotificação dos casos de dengue. E isso é algo extremamente perturbador, porque mesmo assim, já se estima uma ocorrência cinco vezes maior do que no mesmo período do ano passado.

As falhas no planejamento, os atrasos nas tomadas de decisões e as medidas adotadas de improviso são a regra da gestão da saúde no atual governo. E isso acaba implicando em maior gasto de dinheiro público, maior sacrifício dos profissionais de saúde que, mal saíram da guerra contra a covid se vêem sobrecarregados com a desorganização governamental no combate à dengue.

Sobretudo, a população do Distrito Federal sofre, adquire sequelas e vai a óbito por essa desorganização e falta de comando crônica, além dos equívocos na definição geral da política de saúde do DF. Não existe mais prevenção de doenças e promoção de saúde na rede pública do DF, tudo virou emergência.

E isso vai desde o topo do atendimento de alta complexidade até a UBS que devia estar fazendo acompanhamento pré-natal, de hipertensão e diabetes (só para citar algumas necessidades), mas não consegue, porque agora, graças à política adotada pelo GDF, atende paciente com parada cardiorespiratória sem nem ter condição para isso.

A pandemia da covid-19 foi cruel com o nosso povo. A endemia da dengue também está sendo. Mas a maior crueldade que aflige os usuários do sistema público de saúde do DF são as mazelas da falta de gestão, de planejamento e de comando na Secretaria de Estado de Saúde.

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