Na quarta-feira, Brasília acordou com a notícia de mais uma operação policial que investiga irregularidades e indícios de corrupção em contratos firmados pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, o IGESDF. A investigação é conduzida pela Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado da Polícia Civil do Distrito Federal. Friso a destinação do grupo policial: combate ao crime organizado.
Na mesma manhã, recebi uma denúncia de colegas profissionais de saúde do Hospital Regional de Ceilândia: O HRC não tinha como imprimir os exames de raio-x na emergência da ortopedia. Para que o médico analisasse o exame (para dar o encaminhamento necessário ao caso), o paciente tinha que fotografar com o celular a tela do aparelho e mostrar ao médico ou o médico tinha que interromper o atendimento a quem aguardava na fila para ir até o aparelho de raios-x para avaliar o exame de imagem. De uma forma ou de outra, a falta da impressão aumenta muito a chance de erro de diagnóstico e de condução do tratamento do paciente.
Passados poucos momentos, recebi queixa da emergência da clínica médica do Hospital Regional do Gama: o hospital estava sem clínico. Nem na sala vermelha, onde ficam os pacientes em estado grave, tinha um profissional de plantão. O HRG sofre com falta de clínicos há um ano. Denunciamos isso em junho de 2021. Pedimos até a interdição ética no serviço, porque estão ocorrendo óbitos evitáveis dentro do hospital por falta de profissionais que acompanhem os pacientes.
O Conselho Regional de Medicina do DF deu um ultimato à Secretaria de Estado de Saúde há poucas semanas – ou se resolvem os problemas na emergência da clínica médica do HRG ou será adotada a medida da interdição ética. Enquanto não dão solução, os poucos profissionais lotados na unidade estão sobrecarregados e os pacientes sofrem e correm risco, se precisarem de internação.
Pela torneira de recursos públicos do IGESDF, escorre dinheiro mal gasto ou desviado criminosamente. Pelo conta gotas que abastece as unidades de saúde sob administração direta do Governo do Distrito Federal não sai o suficiente para o básico: contratação de pessoal e insumos mínimos para o atendimento às necessidades dos pacientes.
Desde que foi criado, o IGESDF acumula um histórico sem fim de denúncias de irregularidades, de piora no atendimento prestado aos pacientes e de escândalos. E todo mês, se não em menos tempo, se acrescenta um capítulo novo à história de desacerto do Instituto.
Em janeiro, foi noticiado que o IGESDF foi condenado a pagar indemnização e pensão vitalícia a um paciente que perdeu a visão por demora no atendimento. Em fevereiro, a notícia foi o desabastecimento nos estoques de medicamentos, luvas e outros insumos básicos.
Neste mês de março, além da operação policial para investigar irregularidades em contratos de informática, o Ministério Público do DF já apontou falhas nos processos da Corregedoria do IGES e na transparência das informações que o Instituto tem de prestar, como repasses financeiros recebidos. Além disso, foi condenado em uma Ação Civil movida pela Defensoria Pública a voltar a prestar o atendimento de Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE – um exame de imagem pré-operatório), suspenso em maio de 2021 – só o Hospital de Base do DF e o Hospital Regional de Taguatinga fazem o exame na rede pública de saúde.
Nunca se teve tantos escândalos na saúde pública do Distrito Federal quanto se tem desde a criação do IGESDF pelo atual governo. E é outro escândalo que continuem impondo esse modelo de gestão de serviços e recursos públicos à população que depende do SUS no Distrito Federal.
Quase um ano se passou desde a suspensão das CPRE e da denúncia inicial da insuficiência de clínicos na emergência do Hospital do Gama. Esperamos que não seja necessário realizar atos públicos em maio e junho para marcar o aniversário dos problemas que o IGESDF, a Secretaria de Estado de Saúde do DF e o GDF não resolvem.