Em 2017, quando o então governador do DF, Rodrigo Rollemberg, decidiu transformar o Hospital de Base no que hoje conhecemos como IGES-DF, fui um dos primeiros a me opor. Representando o SindMédico-DF, eu já enxergava os perigos desse modelo. A promessa era de eficiência, agilidade, mais atendimento e gestão “nível Sarah”. Mas o que vemos, desde então, é uma sequência de escândalos de corrupção, contratos superfaturados, falta de transparência e precarização do atendimento.
E o que temos agora? Mais um capítulo vergonhoso na história do IGES-DF. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) acaba de denunciar três ex-integrantes do alto escalão do Instituto. O motivo: eles são acusados de receber propina para beneficiar uma empresa fornecedora de alimentação para hospitais geridos pelo IGES-DF, a Salutar.
E não para por aí. O dono da empresa responsável pela alimentação também foi denunciado. O contrato com a Salutar é um exemplo de como a terceirização da saúde opera: iniciado em 2021, com valor inicial de R$ 73 milhões, hoje já ultrapassa R$ 136 milhões, graças a oito aditivos contratuais. No meio disso, o diretor do IGES-DF foi acusado de embolsar R$ 73 mil em propina. Incluindo até uma geladeira no pacote de presentes.
Salutar já tinha denúncias
A Salutar, que já protagonizou outros problemas em 2022, quando deixou de pagar mais de 100 funcionários no Hospital Regional de Santa Maria, voltou a ser notícia este ano. No início de outubro, denúncias apontaram que funcionários e pacientes do hospital estavam recebendo comida estragada. E mais: com presença de baratas e até plástico. Um verdadeiro absurdo!
Não é de hoje que o IGES-DF se afunda em escândalos. Em abril, o Ministério Público de Contas do DF (MPCDF) já havia acionado o Tribunal de Contas por falta de transparência na gestão. Como pode uma instituição que presta serviços à saúde pública operar dessa forma? O modelo, vendido como solução, é um dos problemas na saúde do DF hoje – um buraco-negro de recursos públicos.
E esses escândalos citados são apenas alguns exemplos. Em uma simples pesquisa em sites de consulta jurídica na internet, encontra-se o nome do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGES-DF) ligado a quase 1.600 processos judiciais. Nem todos são contra o Instituto, mas na maioria o IGES figura no polo passivo.
Desde sua fundação, a instituição é alvo de suspeitas, denúncias e operações policiais. Não faz muito tempo, o IGES-DF já foi alvo de denúncias de favorecimento em processos seletivos, superfaturamento em contratos de leitos e até de envolvimento de um secretário de saúde do DF em esquemas de corrupção. Esse modelo está falido. A gestão terceirizada que prometia eficiência trouxe, na verdade, desmandos e desrespeito à saúde pública.
O SindMédico-DF sempre esteve do lado da verdade. Sempre afirmamos que essa era a direção errada para a saúde pública do DF. Hoje, é lamentável ver que nossos alertas se tornaram realidade. E quem mais sofre? Pacientes, médicos, enfermeiros… O IGES-DF vive à sombra de escândalos. E já passou da hora da Secretaria de Saúde sair da sombra do IGES-DF. Precisamos devolver a dignidade ao atendimento à população. Menos institutos na saúde e mais SUS!