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Não se faz política pública permanente com mutirões e carretas

Não se faz política pública permanente com mutirões e carretas
Você conhece o Projeto Minha Saúde? Apresentado pelo GDF como uma forma de melhorar o acesso aos serviços médicos, o projeto consiste em unidades móveis de atendimento: carretas. No entanto, ações assim estão bem distantes de serem uma solução real para a saúde pública. Na verdade, ao contrário: são superficiais e disfarçam (até certo ponto) a ausência de investimento contínuo e estruturado no sistema público de saúde do Distrito Federal. Mutirões e carretas realizam exames e consultas de forma rápida. E só isso, nada mais. Não há acompanhamento de fato. Essas ações falham em criar estruturas sustentáveis para o sistema de saúde. Em vez disso, desviam recursos que poderiam ser mais bem aplicados na construção de unidades permanentes de atendimento, na capacitação e contratação efetiva de profissionais de saúde e na melhoria da gestão dos serviços. Além disso, o uso político e eleitoral dessas unidades móveis é evidente. Elas são frequentemente utilizadas como uma forma de gerar visibilidade imediata para o governo. Criam uma ilusão de eficiência que não se sustenta no longo prazo. É o que chamamos de manobra populista: desvia a atenção da necessidade de implementar políticas públicas permanentes e criam a fantasia de que há urgência em resolver os problemas da população. A falta de continuidade é outro problema crítico: o cidadão precisa de acesso constante e permanente à saúde pública. Mutirões e unidades móveis de saúde são iniciativas esporádicas e sem garantia de continuidade. Acontecem de tempos em tempos. O que deixa você, paciente, desamparado quando esses serviços não estão mais disponíveis. O sistema de saúde deve ser planejado com uma visão estratégica, não com ações pontuais que não resolvem os problemas estruturais. Tanto é que, na outra ponta, se você for ao posto de saúde, provavelmente não vai conseguir o acesso que precisa ao SUS-DF.

Políticas públicas em vez de carretas e improvisos

A situação no Distrito Federal é particularmente preocupante. Com uma população de 1,9 milhão de pessoas dependentes exclusivamente do SUS e apenas 4 mil médicos na rede pública, a sobrecarga do sistema é evidente. E não faltam médicos, como venho dizendo repetidamente. O que falta é investimento na saúde: fazer a reposição de médicos e outros profissionais no sistema como um todo. A escassez não é apenas uma questão de números. Ela é resultado da falta de comprometimento com uma reforma real e sustentável da rede pública. O indicativo de greve dos médicos do DF reflete a insatisfação generalizada com as condições de trabalho e a falta de investimento adequado no setor. Os médicos têm tentado dialogar com o GDF há anos, buscando melhorias nas condições de trabalho e na infraestrutura da saúde pública. Mas, em vez disso, o marketing do GDF foca nas carretas. Por isso, este indicativo não pode ser visto apenas como uma interrupção, mas como um grito de socorro! É uma demanda por mudanças estruturais urgentes que superem o paliativo. Chega, né? O Projeto Minha Saúde e outras iniciativas similares são meros “temporários”, que não enfrentam os problemas reais do SUS. É essencial que o GDF redirecione seu foco de ações de marketing para políticas permanentes. Políticas públicas que garantam infraestrutura adequada e valorização dos profissionais de saúde. Até que isso aconteça, a saúde pública continuará a ser tratada como um espetáculo: confessando a incapacidade da gestão de criar políticas públicas permanentes. Enquanto isso, a população sofre com a falta de acesso a um atendimento digno e com qualidade.
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