A saúde pública no Distrito Federal está em uma situação crítica. E você, que depende do SUS, sente isso na pele. Neste contexto, o indicativo de greve dos médicos da rede pública não é apenas uma reivindicação por melhores condições: é um ato de responsabilidade e um grito de alerta sobre o caos que tomou conta do sistema de saúde do DF. Ela é um sintoma de um problema maior: a “greve branca”, imposta pelo próprio governo do DF, que, ao negligenciar a saúde, compromete toda a população.
O conceito de “greve branca” se refere à prática de um governo quando, deliberadamente, corta recursos, reduz pessoal e suspende atividades essenciais. Ou seja, em teoria, a gestão está trabalhando. Na prática, cruza os braços para os problemas reais da população. Você, cidadão, vive isso quando procura um hospital público. Não é verdade?
Os médicos da rede pública do DF têm trabalhado em condições precárias há anos. Apenas no ano passado, foram realizadas 1.548.388 consultas médicas nas UBSs; 1.817.252 consultas e atendimentos na atenção secundária; 12.754.444 procedimentos em hospitais; 3.105.906 atendimentos nas UPAs e 2.418.233 consultas, atendimentos, avaliações e acompanhamentos ambulatoriais. Isso tudo com falta de recursos, escassez de profissionais e estruturas deficientes.
Médicos trabalham: e muito
Hoje, o Distrito Federal tem mais de 1,9 milhão de pessoas que dependem exclusivamente do SUS. E, para atendê-los, a rede pública conta com apenas 4 mil médicos. Isso em um cenário de 18.045 profissionais ativos, o que representa um índice de 6,31 para cada 1 mil habitantes: a maior média do Brasil. Na rede pública, no entanto, são 2,03 médicos para cada 1.000 habitantes. Faltam médicos? Não! Falta vontade política de mudar essa realidade.
Neste contexto, quero ressaltar, o SindMédico-DF tenta, há seis anos, conversar com o GDF. Apontar soluções e mostrar saídas para a situação. Por isso, nós, médicos, estamos cientes das consequências de uma paralisação. No entanto, continuar trabalhando nessas condições seria uma irresponsabilidade. Este indicativo de greve é, sobretudo, um ato de responsabilidade. Uma ação que traz à luz um sistema que está falhando tanto com os profissionais de saúde quanto com os pacientes.
O déficit de profissionais, por exemplo, não é uma questão recente. Nos últimos dez anos, o número de médicos na rede pública do DF tem caído drasticamente, com uma redução de 27% em relação a 2014. Em recente relatório, o TCDF que 22 das 33 Regiões Administrativas (RAs) possuem quantidade de equipes menor nos postos de saúde do que o preconizado para a população desses locais: o que compromete o atendimento prestado à população.
Ou seja, a “greve branca” do GDF resultou em uma rede pública de saúde à beira do colapso, com médicos e outros profissionais de saúde trabalhando em condições cada vez mais precárias. O resultado? Hospitais com bandeira vermelha, superlotação, falta de insumos, incapacidade de resposta às demandas dos cidadãos.
O GDF, ao não dialogar com os representantes de diversas categorias e ao não tomar medidas para suprir a falta de médicos e recursos, é o verdadeiro responsável pela situação crítica que levou ao indicativo de greve dos médicos. A má gestão e a inércia do governo colocaram o sistema de saúde pública nesta situação. Portanto, este indicativo não é um problema isolado. É um sintoma de uma crise maior.
É hora de nos unirmos. É hora de apoiar os médicos. Queremos um atendimento digno para todos. E exigimos que o GDF tome medidas imediatas para reverter essa situação. A saúde pública não pode mais esperar.