No Distrito Federal, os meses de março a julho são críticos para a transmissibilidade das viroses respiratórias da infância. Esse período é reconhecido como “sazonalidade pediátrica”, impactando especialmente as crianças menores de 2 anos. Viroses respiratórias, como Influenza e VSR, apresentam quadros graves nessa época, exigindo agilidade no atendimento e acompanhamento médico. A exemplo do que acontece com a dengue, no entanto, mesmo fazendo parte do chamado “calendário da saúde”, até o momento a previsão de ações para combater essas doenças respiratórias é mínima.
O início do ano letivo aumenta o contato interpessoal, o que resulta na incidência de doenças, infecções e internações entre o público infantil. Nesse contexto desafiador, surge a pergunta crucial: o Sistema Único de Saúde (SUS) do DF possui a capacidade necessária para atender a essa demanda que, inevitavelmente, baterá à porta? Qual a estratégia da SES-DF para o período?
É importante lembrar que o Distrito Federal já enfrenta sobrecarga nos hospitais e unidades de saúde devido à epidemia de dengue, que segue com números alarmantes, e pode mesmo se agravar nos próximos dois meses. A Secretaria de Saúde do DF assegura a existência de um “Plano de Enfrentamento para as Doenças Respiratórias da Infância” para este ano. De fato, ele foi publicado. Contudo, uma análise mais detalhada do documento revela a ausência de ações efetivas.
Um exemplo disso é a seguinte declaração: “ampliar a capacidade de atendimento por demanda espontânea às crianças com sintomas respiratórios nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) em tempo”. Como? Com qual efetivo? Há servidores suficientes para isso? Não. Ao contrário, a capacidade de trabalho da SES-DF encolhe ano a ano. E o motivo todos já sabem: redução da capacidade de trabalho, servidores cansados, desmotivados e sobrecarregados, à espera de um milagre no SUS-DF.
Outra contradição é aquilo que o plano define como “ampliar a capacidade de atendimento”. Mas como, se o número de pediatras tem diminuído ? Em março do ano passado, dados do InfoSaúde indicavam a presença de 515 pediatras na rede pública, enquanto agora temos apenas 451 – uma queda significativa de 12,4% no quadro desses profissionais.
Essa disparidade levanta questionamentos sobre a viabilidade prática do plano. Até aqui, a única certeza é a incerteza. No ano passado, no auge das doenças respiratórias pediátricas, com hospitais e unidades de saúde superlotados, os pediatras da rede pública relataram ao SindMédico uma série de desafios alarmantes. Insegurança, equipes insuficientes, superlotação, falta de pontos de oxigênio, transporte dificultado de pacientes graves e internações em locais inadequados foram apenas algumas das preocupações levantadas.
Como vai ser neste ano?
Problemas pontuais, como a falta de manutenção de equipamentos, também foram destacados, assim como o elevado absenteísmo por adoecimento. A situação se complica ainda mais com a incerteza expressa por dois servidores da Secretaria de Saúde do DF (SES) sobre o plano de ação anunciado para este ano. Eles afirmam desconhecer a quantidade de pediatras nas policlínicas e expressam dúvidas a eficácia do plano de ação. Em um cenário onde se propõe a criação de níveis de alerta baseados em porcentagens de ocupação de leitos, “a falta de clareza quanto às ações a serem tomadas em cada nível é preocupante”, denunciou um médico. .
Outro servidor da SES-DF destaca a necessidade de ações concretas em resposta aos alertas amarelo e vermelho. Mas, a falta de informações específicas sobre o plano de contingência e a capacidade real de resposta do sistema de saúde deixa a desejar no chamado “Plano de Enfrentamento”.
Afinal de contas, há um plano eficaz ou apenas um papel pró-forma?
Com a sobrecarga nos hospitais devido à epidemia de dengue e a iminência do período crítico de viroses respiratórias, a questão crucial é: vamos viver o colapso total do SUS a partir de março? Precisamos de ação imediata e eficaz por parte das autoridades de saúde do Distrito Federal, que até aqui tem mostrado apenas o “improviso” como saída. Quando, na verdade, sabemos: se a doença é “sazonal”, é possível planejar ações.