Somos 808.603 profissionais com diplomas médicos reconhecidos no Brasil. Dentre estes, somos 546.293 em atividade. Os demais já não exercem a atividade – mas, uma vez médico, médico se é até o fim dos dias. Ser médico, antes de uma vocação, é um destino. Quando a gente se forma e atua na profissão, enfrenta dissabores e desafios, mas o conhecimento e o exercício da medicina nos moldam para o resto das nossas vidas.
Para o grande público, acostumado com as séries médicas na televisão, prevalece uma visão romântica do médico como alguém cujo destino é resolver problemas complexos com raciocínio lógico, livre poder decisório e meios irrestritos para exercer seu ofício, regido por uma orientação humanista de auxílio ao próximo.
No dia a dia, porém, somos desafiados pela desumanização da nossa atividade. No Brasil, como no mundo, os profissionais da área enfrentam grandes desafios, como a imposição de protocolos estritos e restrição do tempo de consulta, que inviabilizam a boa comunicação entre o médico e o paciente – o que é essencial tanto para o melhor diagnóstico da condição do paciente quanto para transmitir a ele a segurança e o conforto que espera da figura do médico. Isso é parte de ser médico.
Corroboram para o quadro desafiador, condições de trabalho extenuantes e falta de recursos (até os mais simples), a enorme quantidade de pacientes a serem atendidos em lugares insalubres, as pressões por produtividade e lucro das operadoras de planos de saúde, ou a politicagem vigente nos serviços públicos da área.
O médico enfrenta uma constante luta interna e externa entre aquilo que considera precisar fazer pelos seus doentes, o que os sistemas de saúde suplementar ou público permitem fazer e, por outro lado, o que os doentes exigem e esperam obter dele.
Diante dessa realidade, ao comemorarmos o Dia do Médico (18 de outubro), em especial em ano de eleições gerais no Brasil, não podemos deixar de considerar a necessidade de dar a essa legião de trabalhadores as condições para colaborar na construção de um modelo de assistência em saúde mais justo, solidário e orientado pelos compromissos éticos que temos com a população. Ser médico é uma função social.
A plena realização do potencial e daquilo a que se propõe a comunidade médica passa pelo estabelecimento de políticas públicas de valorização profissional e da criação das condições para que a atividade possa ser exercida adequadamente, e o acesso à assistência universalizado a todos os brasileiros – seja por via pública, suplementar ou particular.
Foi nesse sentido que as entidades médicas nacionais encaminharam a todos os candidatos à Presidência da República, ainda no primeiro turno das eleições, a agenda dos médicos para a saúde do Brasil.
A valorização do médico e o justo reconhecimento de sua atividade passam pela defesa do direito à saúde, pelo adequado financiamento público do SUS, pela interiorização do médico por meio da criação de uma carreira de Estado, pela garantia de ensino médico de qualidade, infraestrutura e condições adequadas de trabalho.
Os desafios estão postos e cabe ao conjunto da sociedade, em especial à classe política e aos governantes, prover os médicos das condições essenciais para seu exercício profissional pleno: promover a saúde, salvar vidas, evitar e mitigar o sofrimento humano. Pois ser médico é ter um compromisso inabalável com a vida.