Que bom, chegamos em 2022, na torcida para que seja um ano melhor, que consigamos, como prevê a Organização Mundial de Saúde, superar a epidemia da covid-19. E é também um ano em que a política vai estar no centro das atenções – é ano eleitoral. E eu volto a lembrar a frase do Dr. Jofran Frejat dita em uma entrevista de 2010: “tem de haver é uma política de saúde e não política na saúde.”
Não sou daqueles que demonizam a política. Mas quando a gente fala de “política na saúde”, se refere ao uso da estrutura de saúde pública para atender os interesses ou conveniências de alguém ou algum grupo específico – o que nem sempre, quase nunca, caminha junto com o interesse do conjunto da sociedade. A politicagem na saúde dá margem a uma série de desvios e abre as portas à corrupção.
Os reflexos disso a gente vê todo dia: nomeações sem critério técnico para cargos de decisão e de gestão. Falta de visão administrativa das consequências das decisões tomadas e ações implementadas: como, por exemplo, no que foi feito com os postos de saúde do Distrito Federal, quando decidiram acabar com os atendimentos especializados em clínica médica, pediatria e ginecologia. Acharam que estavam reinventando a roda – só que a fizeram quadrada e o atendimento à população só piorou e se criou um problema imenso no fluxo de pacientes em todos os níveis de assistência. Resultado: os hospitais e UPAs estão mais cheios do que nunca e a capacidade de atendimento é insuficiente.
A colocação de pessoas em cargos de direção por critérios políticos também se presta a desvios, como abrir caminho para apadrinhamentos nas contratações e na política de gestão dos trabalhadores do quadro e favorecimento de alguns pacientes em detrimento de quem aguarda nas filas dos sistemas de regulação de consultas, exames e cirurgias. Abre margem também para favorecimento e criação de esquemas de corrupção e desvios, com participação de empresas privadas, em compras, obras e execução de projetos. Essa versão distorcida de política está na raiz do caos na saúde.
Desenvolvendo um pouco a afirmação do Dr. Jofran Frejat, além de fazer política de saúde de forma séria, eu acredito que precisamos levar uma visão de saúde para a prática da política como um todo. Tanto precisamos sanear o ambiente a as práticas políticas de hábitos e conceitos doentios quanto precisamos ter a visão de que saúde é uma questão central e transversal. A própria pandemia que enfrentamos deixou bem evidente o quanto o tema saúde se inter-relaciona com outras áreas da vida pessoal e coletiva. Vejam o quanto a epidemia afetou a economia e o emprego, por exemplo.
O complexo econômico-industrial da saúde é considerado por alguns como uma das principais forças para o crescimento da economia neste século, tanto quanto o petróleo, a indústria automobilística no passado. E a qualidade da saúde da população tem relação direta com o desenvolvimento das nações: um país de gente doente, gasta com a doença. Um país de gente saudável, aumenta sua produtividade e cria um círculo virtuoso de desenvolvimento.
Na política precisamos ter em mente que a qualidade da saúde da população tem reflexo direto também nos gastos do Estado, seja na prestação de assistência quanto na área previdenciária – nos gastos com pensões, auxílios e aposentadorias.
E da mesma forma que a saúde afeta outros setores da vida das populações, outras questões têm impacto direto na saúde: a qualidade do transporte público, da mobilidade urbana e humana; a organização e crescimento das cidades; a qualidade e o custo da alimentação; o cuidado ou descuido com o meio ambiente; o nível de educação da população. Tudo impacta na saúde e tem reflexo na riqueza das sociedades.
Por isso tudo, temos que inverter o atual estado de coisas: acabar com a politicagem na saúde, que só causa sofrimento e atraso, e fazer política com um olhar da saúde, para pavimentar o caminho para o pleno desenvolvimento de cada cidadão e do conjunto da sociedade.