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Saúde, Brasília!

Saúde, Brasília!

Uma coletânea de cem artigos que traçam um retrato vívido do exercício da medicina entrelaçado com política de saúde, qualidade de vida e cidadania no Distrito Federal está na praça. O título Saúde, Brasília!” é mais do que uma simples saudação – é um eco de esperança, um desejo manifesto para todos que chamam esta cidade de lar, sejam brasilienses de nascimento ou de coração, como eu. Um chamado por saúde plena e vida digna, que deveria ser o piso, não o teto, de nossas aspirações coletivas.

O prefácio, assinado pelo eminente cirurgião pediátrico e deputado federal Zacarias Calil Hamú, sintetiza com precisão cirúrgica a filosofia que orienta meu trabalho: “Cuidar da saúde não se resume a prescrever e tratar. É, sobretudo, denunciar o que impede que vidas sejam salvas, que direitos sejam garantidos, que o cuidado seja digno.” Estas palavras não são apenas um convite à reflexão, mas um mapa para a ação.

Brasília foi o palco onde, após minha formação na Universidade Federal da Paraíba, comecei a exercer a medicina não como mero ofício técnico, mas como missão social. Logo percebi que o consultório, o centro obstétrico e a sala de cirurgia, embora essenciais, eram espaços insuficientes para garantir saúde digna à população. Desde 2007, transformei a caneta em instrumento de luta, publicando mais de quinhentos artigos que são, em essência, atestados de uma realidade que não podemos mais ignorar.

Escrevo movido pela mesma inquietação que Martin Luther King expressou ao dizer: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.” O Sistema Único de Saúde, essa conquista civilizatória que teimamos em tratar como parente pobre, exige aperfeiçoamento urgente. Mas antes de qualquer reforma técnica, exige respeito dos gestores e governantes. O que testemunhamos nas últimas décadas é o aviltamento sistemático de uma política de Estado, com custo medido em sofrimento humano, vidas perdidas e profissionais de saúde esgotados em sua vocação de cuidar e curar.

Meus textos não confinam a saúde aos limites dos consultórios, dos corredores hospitalares ou aos gabinetes da gestão burocrática. Saúde é fenômeno que transpira humanidade em sua forma mais crua – é essencialmente humano, mas também coletivo. Portanto, é político por necessidade. Não cabe em prontuários nem se curva a protocolos, quando entendemos que sua expressão máxima está na garantia de condições dignas de existência, no acesso universal sem subterfúgios, na justiça social que ainda não atingimos.

Promover saúde verdadeira exige muito mais do que intervenções quando o corpo já está em crise. Demanda um olhar com foco no meio ambiente, na organização urbana, na rede de proteção dos serviços públicos, na educação como vacina social. Implica reconhecer que transporte digno e emprego estável são até mais determinantes para a saúde do que um medicamento. Em um mundo ideal, o melhor plano de saúde seria aquele que evitasse o adoecimento antes que ele sequer pudesse germinar.

E quando os esforços preventivos são insuficientes e o cidadão precisa finalmente acessar os equipamentos públicos – sejam simples postos de saúde ou hospitalais de alta complexidade – esse sistema deve estar pronto não apenas para recebê-lo, mas para acolhê-lo com excelência. Isso exige gestores que compreendam que equipes motivadas não são luxo, mas requisito básico; que valorização profissional não é gasto, mas investimento; que recursos adequados não são favor, mas obrigação ética, moral e constitucional. Enquanto persistirmos na miopia gerencial que ignora essas verdades elementares, continuaremos a contabilizar sofrimento multiplicado e vidas perdidas em vão.

Escrevo, portanto, para despertar consciências. Para lembrar a cada leitor que saúde não é capítulo isolado da vida, mas fio que entrelaça todos os seus momentos. Para alertar gestores e governantes que suas decisões, por mais técnicas que pretendam parecer, têm rosto, nome e história – são pacientes que esperam, mães que sofrem, idosos que padecem. Escrevo porque acredito que a medicina sem consciência social é mero curativo sobre feridas que continuarão a sangrar.

Clique na imagem e confira o álbum de fotos da noite de autógrafos do livro.

Saúde, Brasília! Noite de autógrafos

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