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Brasília, 65 anos: é hora de colocar a saúde no centro do futuro

Brasília 65 anos

Brasília nasceu do sonho. Um traço no cerrado, uma utopia projetada entre o concreto e o horizonte infinito. A cidade que emergiu do nada em 1960 completa 65 anos nesta segunda-feira, dia 21 de abril, carregando o peso da sua história – e a responsabilidade de se reinventar todos os dias.
Ao longo dessas seis décadas e meia, vimos Brasília crescer, se transformar, abrigar histórias, lutas e vidas. Mas também vimos – e sentimos – as dores dessa capital: desigualdades gritantes, periferias esquecidas, servidores públicos desvalorizados e um sistema de saúde que, apesar dos esforços dos seus profissionais, segue enfrentando precariedades que envergonham qualquer nação.
Hoje, celebramos não só a cidade, mas a resistência de quem cuida dela.
A saúde pública do Distrito Federal é o reflexo mais nítido do quanto Brasília precisa de coragem para mudar. Coragem para enfrentar o abandono crônico, a terceirização desenfreada, a falta de concursos e o desmonte silencioso das estruturas do SUS – de outros serviços públicos. Coragem para dizer, com todas as letras, que saúde não é mercadoria.
Nós, médicos do DF, conhecemos de perto as consequências do descaso: emergências superlotadas, equipes reduzidas, condições insalubres e a dor do paciente que espera, muitas vezes sem resposta. E mesmo diante de tudo isso, seguimos aqui. Presentes. Atuantes. Lutando por uma saúde pública que respeite a dignidade de cada ser humano. Fazemos parte da coragem de Brasília.
O episódio atual é grave e encontra um precedente análogo na história da saúde pública do DF: a desfiguração do Plano Bandeira de Mello. Robusto e bem executado durante alguns anos, o Plano foi um marco na assistência à saúde da população do Distrito Federal, antecipando em quase duas décadas os princípios da Conferência Internacional de Alma-Ata, em 1978. No entanto, deu lugar a decisões políticas que distorceram seu propósito original, resultando em perdas significativas para a população.
Assim como o Plano Diretor de Saúde foi desviado de sua essência, o que se vê hoje é o risco de outros projetos estruturantes para Brasília também serem corrompidos, como o PPCUB, que ameaça deixar a cidade desfigurada. Os efeitos desse tipo de desvio são sempre os mesmos: exclusão, desigualdade e degradação da qualidade de vida. O precedente da saúde deve servir de alerta.
Este projeto, que nasceu com Brasília, com a intenção de expandir o SUS, agora esbarra no seu oposto: tentam diminuir as estruturas do SUS, focando apenas na lógica do mercado – que é a lógica do lucro.
Neste aniversário de 65 anos, é tempo de resgatar o projeto original de Brasília: uma cidade feita para as pessoas. E isso começa com o respeito à vida e ao serviço público. Não há desenvolvimento sem saúde, educação e segurança. Não há cidade moderna com hospitais sucateados. Não há futuro promissor se o presente nega cuidados básicos à população.
A esperança que nos move não é ingênua. Ela não nasce de ilusões ou promessas vazias, mas é construída na realidade dura das lutas cotidianas, no compromisso diário com uma cidade mais justa, mais humana e mais digna para todos. E, nesse caminho, a saúde precisa estar no centro do projeto de futuro que queremos construir. Porque não há justiça social sem acesso pleno à saúde, não há dignidade sem cuidado, e não há Brasília possível se deixarmos adoecer o que temos de mais precioso: as pessoas!
Brasília tem futuro, sim. Mas esse futuro depende da escolha que fazemos agora: se queremos uma capital que acolha ou que exclua; que sirva à maioria ou a interesses privados.
Aos 65 anos, Brasília precisa lembrar do seu nascimento para reencontrar seu destino. E eu, enquanto defensor do SUS, reafirmo aqui meu compromisso com uma cidade que cuida das pessoas – todas elas.
Porque o futuro segue em construção. E Brasília merece mais. Brasília merece um governo que cuide — de verdade — de quem vive aqui.
Parabéns à nossa capital pelos seus 65 anos.

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