Após o apagão que deixou milhares de paulistas sem energia, o exemplo de São Paulo nos alerta: a privatização de serviços essenciais resulta em um sistema mais caro, menos acessível e com pior atendimento. Na saúde do Distrito Federal, estamos diante do mesmo risco. O GDF segue a passos largos para terceirizar cada vez mais a saúde pública, transformando a busca pelo lucro em prioridade.
Em vez de investimentos reais no SUS, temos estudos encomendados para repassar a setores privados áreas como laboratórios e exames de imagem. Isso sem contar a anestesia, que já foi terceirizada. E o próprio IGES-DF, nosso gigante que dá claros sinais de que algo não vai bem. Ainda assim, o “modelo de gestão” segue em plena expansão, assim como pretendem fazer com a pediatria e com a Atenção Primária.
A verdade é que o governo local não faz o básico: a contratação de médicos e a valorização dos servidores. Recentemente, fomos à greve justamente pela ausência de investimentos no serviço público e pelo desrespeito com os profissionais que mantêm o atendimento. Ao invés de reforçar as equipes, estrutura e condições de trabalho, a administração pública opta por transferir suas obrigações para empresas privadas.
O resultado é que o lucro se torna mais importante do que o atendimento digno à população.
Terceirizar não é resolver; é renunciar à responsabilidade. Quando o setor público se afasta, o controle e a transparência são reduzidos. O próprio IGES-DF, que administra hospitais e UPAs, tem denúncias recorrentes de má gestão, desvios de recursos e piora do atendimento. A lógica do lucro, infelizmente, vence a lógica da qualidade de vida. Esse movimento de privatização não se trata de melhorar a saúde. Não caia nessa armadilha. Ele apenas abre portas para empresas que visam o retorno financeiro, não a qualidade do atendimento.
Em coletiva de imprensa sobre a situação de São Paulo, o governador do estado, Tarcísio de Freitas, foi preciso: “Por que a empresa (Enel) não fez o que deveria? Porque ela não queria gastar dinheiro. Ela não quer gastar dinheiro”. Aqui, vale lembrar: a Enel, responsável por 70% da distribuição de energia em SP, surgiu da privatização da Eletropaulo, vendida ao conglomerado estrangeiro em 2018. O resultado: mais de meio milhão de imóveis sem energia depois de um temporal. E cinco dias, em 16 de outubro, depois das chuvas, ainda restam 90 mil famílias vivendo no escuro.
RS também é exemplo
Aqui, quero fazer um adendo: você se lembra das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul? Àquela época, no auge do desastre, todas as empresas privadas de entregas de encomendas, como Amazon e Mercado Livre, pararam de fazer envios para o estado. Os Correios, cujo serviço de entrega ainda é monopólio estatal, continuaram fazendo esse trabalho. E com um acréscimo: fizeram chegar ao RS doações de diversos lugares do Brasil.
A saúde, meus amigos, é um direito constitucional e não pode ser tratada como mercadoria. Nem ela e nenhum serviço essencial que atenda à população: isso inclui educação, segurança e transporte público (entre outros). Entregar essas áreas ao setor privado cria um cenário em que mais vulneráveis são os primeiros prejudicados. O serviço público, quando bem estruturado, é a única forma de garantir atendimento igualitário e de qualidade para todos. Portanto, qualquer política que diminua o SUS é um retrocesso.
Como defensor da saúde pública, presidente do SindMédico-DF, médico e advogado, reforço: o SUS-DF deve ser valorizado e fortalecido, com servidores e estruturas adequadas. O caminho nunca será terceirizar/privatizar. A solução é investir. Nossa luta deve ser para que o Estado assuma seu papel: garantir um atendimento de qualidade, acessível e sob controle da sociedade, e não das empresas. Não queremos, para o Distrito Federal, um apagão na saúde.