Após 18 dias de greve, nós, médicos do Distrito Federal, tomamos a difícil decisão de suspender nossa paralisação. Foi uma escolha que, como sempre, teve a população como prioridade. Desde o início, nossa luta nunca foi apenas por salários ou por melhores condições de trabalho – embora essas sejam demandas legítimas e urgentes. Nossa luta é, acima de tudo, pela qualidade do atendimento à saúde que a população do DF merece e tem direito.
Suspender a greve, no entanto, não significa encerrar a nossa mobilização. Decidimos dar uma pausa, confiando que o GDF apresentará respostas concretas às nossas reivindicações, como nos foi garantido pela secretária de Saúde, Lucilene Florêncio. Foi um voto de confiança no diálogo e nas instituições. Porém, mantemos o estado de greve e, se necessário, retomaremos a paralisação para exigir aquilo que é justo e necessário: respeito aos profissionais de saúde e à população.
Chegamos à greve após anos de tentativas frustradas de diálogo com o governo. Desde 2019, o SindMédico-DF busca discutir melhorias no serviço público de saúde com o GDF: o que inclui, além de recomposição salarial, a contratação de mais médicos por concurso público, o que permitiria um atendimento mais eficiente à população. Infelizmente, no entanto, o descaso com o sistema de saúde e com os seus profissionais nos levou a um ponto insustentável.
A greve é sempre o último recurso de uma categoria que, antes de qualquer outra coisa, tem o dever de cuidar. Por isso, não decidimos por uma paralisação de forma leviana. Contudo, também sabemos que um sistema de saúde que negligencia os médicos, que permite a sobrecarga de trabalho e não garante condições adequadas de atendimento, é ainda mais prejudicial para os cidadãos a longo prazo.
A decisão de suspender a greve, mesmo sem termos todas as garantias de que nossas demandas serão atendidas, é mais uma demonstração de que nós, médicos, sempre colocamos a saúde da população em primeiro lugar. Fizemos isso porque sabemos que, sem o nosso retorno, muitos pacientes ficariam ainda mais desassistidos. Porém, isso não significa que desistimos de lutar.
Esperamos que, nesse prazo de uma semana, o GDF traga uma solução justa para os médicos e para a população. O que pedimos, volto a dizer, não é apenas reajuste salarial. Pedimos respeito e reconhecimento pela importância do nosso trabalho. Pedimos melhores condições de trabalho, porque são elas que garantem o atendimento digno àqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Um sistema público de saúde não pode funcionar sem médicos em número suficiente e valorizados.
Neste momento, está em jogo muito mais do que as questões salariais. O que está em jogo é o futuro da saúde pública no Distrito Federal. Os médicos têm dado o seu máximo, mesmo em condições extremamente adversas. Mas até quando conseguiremos sustentar um sistema que, por anos, foi deixado à margem das prioridades do GDF?
Estamos em estado de greve e nos reuniremos em nova assembleia nesta sexta, dia 27. Esperamos que o governo entenda a gravidade da situação e apresente uma proposta que contemple as nossas reivindicações. Não lutamos apenas pelos nossos direitos, mas por uma saúde pública que atenda com qualidade e que respeite os profissionais que nela trabalham.