O uso de tendas e carretas tem se tornado cada vez mais recorrente. Ele é útil em crises, mas não é solução para os problemas estruturais do Sistema Único de Saúde do DF. Nessa linha de ação, o Governo do Distrito Federal aumenta gasto e vai pagar R$ 28 milhões a uma instituição privada por 11 novas tendas de hidratação que vão funcionar por dois meses apenas.
Esse gasto com medidas paliativas em momentos de crise tem sido chamado erroneamente de “investimento do GDF em saúde”. Mas investimentos são aplicações de recursos públicos destinados à ampliação da oferta de serviços à população de forma continuada e com foco no futuro.
Em dois meses, as tendas deixarão de funcionar ou, ao menos, esperamos que não haja motivos para estender o funcionamento delas. Esse tipo de gasto é alto e, na verdade e salvo situações excepcionais e imprevisíveis, é um custo decorrente de omissão, desorganização e falta de planejamento na oferta de serviços públicos de saúde à população, ocorridas no passado.
Vamos comparar: para as 11 tendas de hidratação funcionarem durante dois meses, o GDF vai desembolsar R$ 28 milhões. Já a construção, por meio do PAC Saúde, de seis unidades básicas de saúde (UBSs), três centros de atenção psicossocial (CAPS), um centro de parto normal e uma policlínica, tem um orçamento de R$ 100 milhões. São 11 obras permanentes que permitirão (quando prontas, equipadas e com equipes contratadas), ampliar a oferta de assistência à população. Nessa comparação, as tendas se enquadram na situação do “barato que sai caro”.
Essa falta de planejamento e de qualidade nas políticas públicas de saúde acaba sendo como um encanamento furado em casa: a água vai se esvaindo pelas rupturas e, se chega à torneira, é reduzida. Mas a conta de água vem alta e a própria estrutura da casa é prejudicada, o que vai ter um custo ainda maior no futuro, sem contar que traz riscos para os moradores.
Tomando por exemplo a situação da comunidade do Pôr do Sol, temos outra situação que onera o orçamento da Saúde. Lá, entre outros problemas, falta saneamento básico, até esgoto correndo a céu aberto é comum. E isso aumenta a perspectiva de adoecimento e, consequentemente, de gastos públicos evitáveis. A Organização Mundial de Saúde estima que cada um dólar investido em saneamento reduz 4,3 dólares de gastos em saúde.
As deficiências no saneamento básico e na limpeza pública, além de medidas preventivas que não foram adotadas ou foram realizadas com atraso, contribuíram imensamente para que a epidemia de dengue no DF tenha atingido um índice de contaminação e número de óbitos tão altos.
Não são necessárias inovações mirabolantes nem a reinvenção da roda para obter melhores resultados na prestação de assistência à saúde da população. Uma máxima popular já indica o caminho para o GDF seguir: a célebre “é melhor prevenir do que remediar”. São verdades simples. No entanto, o GDF insiste em gastar com doenças em vez de investir em saúde.