Ao mesmo passo em que se comemora a inclusão da vacina contra a dengue no sistema público de saúde, por meio do Programa Nacional de Imunização, no cenário do Distrito Federal surge um alerta vermelho: a disparada no aumento de casos da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypt em todas as regiões administrativas. Segundo dados do último Boletim Epidemiológico da SES-DF, o número de casos prováveis de dengue é 207% maior do que no mesmo período de 2023. A situação é preocupante. E mais uma vez, a dengue corre solta e a prevenção parece ter passado longe das ações da gestão pública, assim como o plano de enfrentamento à doença vem tardiamente.
Em agosto do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um documento alertando que o fenômeno climático global El Niño teria um impacto na saúde dos latino-americanos. Especificamente, no que diz respeito ao aumento de casos de dengue, Zika e Chikungunya. O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial. Esse acaloramento influencia os padrões atmosféricos, o que causa impactos significativos no clima global. Meses depois, em outubro, a OMS fez a mesma análise, mostrando mais uma vez preocupação com doenças virais causadas por picadas de mosquitos.
No Brasil, o alerta oficial foi feito em novembro do ano, pelo Ministério da Saúde, por meio de nota informativa. Segundo a análise, o País “está frente à possibilidade de uma epidemia com maiores proporções já documentadas na série histórica”. Importante: o texto também aponta para aumento da chikungunya em municípios de grande porte, altas taxas de ataque e consequente sobrecarga dos serviços de saúde e óbitos. No Distrito Federal, por sua vez, o plano de enfrentamento ao mosquito Aedes aegypt ainda não foi divulgado até a conclusão deste artigo, dia 11 de janeiro. Mesmo após a explosão de casos de dengue na Capital.
Sobre a vacina contra a dengue, o que se sabe até o momento é que, provavelmente, ela estará disponível no SUS a partir de fevereiro. O estado de Mato Grosso do Sul foi o primeiro a oferecer as doses, por ser considerada área prioritária. De acordo com o Ministério da Saúde, as primeiras doses serão ofertadas a públicos e regiões específicas. Enquanto isso, tentam-se as velhas receitas no DF, como o fumacê, que em outras situações já alertei para a baixa eficácia, comprovada cientificamente, além de ser potencialmente cancerígeno para os seres humanos.
Em números gerais, hoje o DF tem, oficialmente, 2.189 casos notificados de dengue. Ainda de acordo com dados da SES, a região de saúde Oeste (Ceilândia e Brazlândia) apresentou o maior número de casos prováveis, com 889; seguida da região Sudoeste (Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires), com 313; da região Centro-Sul (Candandolândia, Estrututal, Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way, SIA e Riacho Fundo I e II), com 96; da região Leste (Jardim Botânico, Itapoã, São Sebastião e Paranoá), com 84; da Região Norte (Fercal, Planaltina e Sobradinho I e II), com 83; da Região Sul (Gama e Santa Maria, com 77; e Região Central (Cruzeiro, Lagos Norte e Sul, Plano Piloto, Sudoeste, Octogonal e Varjão), com 63.
Denúncias que chegam ao Sindicato dos Médicos revelam ainda que houve mortes, neste ano, causadas pela dengue. No entanto, oficialmente, segundo a SES-DF, não foi confirmado nenhum óbito pela doença em 2024. Ainda segundo relatos feitos ao SindMédico-DF, a situação está ficando insustentável nos hospitais e UPAs: superlotação, déficit de médicos e outros servidores e, também, de leitos para atender a alta demanda que, vale lembrar, já é esperada para esta época do ano. O cenário é este. Agora, mais uma vez, pergunto ao governo: até quanto o caos será a regra na saúde do Distrito Federal?