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A maior catástrofe é o descaso com a vida

A maior catástrofe é o descaso com a vida

Em três dias choveu, no Distrito Federal, mais de 60% do que o previsto para o mês de janeiro. E as cenas se repetem na capital da República: alagamentos e transtornos, como ocorrem a cada chuva torrencial. Porém, os acidentes e as tragédias decorrem de causas previstas com muita antecedência. Ou seja, o único imprevisto é a quantidade de chuva. O que pode acontecer com as pessoas que vivem ou transitam por locais de risco já é sabido e nada é feito para tirá-las da condição de perigo. É um verdadeiro descaso com a vida.

A resposta do GDF é declarar estado de alerta e, como não investiu em prevenção, tem de suspender, agora, férias de servidores públicos dos órgãos responsáveis pelo atendimento à população que, evidentemente, não pode ficar sem o socorro.

E isso mostra mais dois aspectos da imprevidência do GDF e da sua falta de atenção com as pessoas: não há servidores em número adequado para o atendimento às necessidades da população, tampouco planejamento para as contingências que já são previstas.

Esse é um drama recorrente. Sem contar que a qualidade do socorro prestado também deixa a desejar. Enxurradas e enchentes, como as que ocorreram na Vila Cauhy, originam infecções diversas, como leptospirose, hepatite, febres e diarreia. Em vez de dar atendimento a essas pessoas em hospitais, com toda a estrutura para consultas médicas e exames, montam-se tendas improvisadas, sem infraestrutura ou equipamentos adequados.

Enquanto se realizam obras, que parecem escolhidas a dedo para causar boa impressão e serem lembradas em futuras eleições, ações necessárias para o bem-estar da população no dia a dia são negligenciadas.

Assim, as áreas de risco continuam oferecendo perigo às pessoas e serviços públicos, como a Saúde, ficam em segundo plano, sofrem cortes orçamentários e nem sequer têm reposição adequada de quadro de servidores, como ocorreu na Secretaria de Saúde do DF no ano passado.

É importante lembrar que o sistema público de saúde do DF sofreu um corte orçamentário de mais de R$ 300 milhões e que chegou ao final de 2023 com menos médicos do que tinha no ano anterior. Só em dezembro houve 51 exonerações de médicos foram publicadas no Diário Oficinal, porque as condições de trabalho e remuneração não são atraentes. Pelo contrário: assustam quem tem disposição e desejo de trabalhar no SUS.

A lógica parece ser sempre a mesma: deixar que a situação se agrave para, aqui e ali, anunciar com estardalhaço, soluções superficiais que, além de não resolverem problemas estruturais, custam caro aos cofres públicos. Exemplo disso são as privatizações e contratações extraordinárias de cirurgias na rede privada de saúde. Quando adotadas, essas medidas paliativas rendem espaço positivo ao governador do momento. São necessárias no momento, mas não resolvem o problema crônico das filas do Sistema Único de Saúde.

Elegemos governantes a cada quatro anos não para que adotem medidas de improviso quando os problemas se agravam, mas para que evitem que as emergências previsíveis ocorram. E os mecanismos para isso existem: planejamento, estabelecimento de metas e avaliação da execução das ações, responsabilidade social e, acima de tudo, empatia com as pessoas que moram na nossa cidade. O problema não são as chuvas, mas o cenário de má gestão, por si só calamitoso, que elas encontram aqui embaixo.

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