Há alguns anos, decidi escrever estes artigos semanais para dar mais voz às questões que atingem nós, cidadãos do DF. E, desta vez, sem a intenção de fazer qualquer retrospectiva, me veio à cabeça que todo fim de ano é a mesma situação: os problemas continuam e seguimos cobrando soluções. O mais triste disso, porém, é que eu já tive que colocar muita esperança no bolso e continuar em frente. Lutar pela saúde não é uma tarefa fácil. Mas, sabe o que tenho percebido? Não estou sozinho: nem na batalha e nem no sonho de ver o Sistema Único de Saúde (SUS) vencer.
Ao longo desses 365 dias, que se encerram nesta semana, percebi que se tem uma coisa na qual a gente é bom é nesse negócio de sonhar e acreditar. E essas duas palavras acabam sendo, no fim das contas, o que nos levam adiante. Qual é a sua utopia? O que te movimenta para o amanhã? Eu, anos atrás, fiz a escolha de tornar a saúde um propósito de vida, tirando do papel o que diz a Lei n.º 8080, que institui o SUS: “O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais (…) que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.”
E eu sei, da observação de cada pessoa com a qual converso, que o sonho de ver o SUS vencer não é apenas meu. Ele é um sonho coletivo! Portanto, é um sonho que tem muita força. Mas, é preciso transformar essa vontade, esse “acreditar” em ações concretas. Então, um dos nossos deveres de casa para o próximo, rumo aos nossos objetivos, é: unir forças. Cobrem comigo do Poder Público. Exijam explicações para as faltas na saúde. Denunciem. Façam valer a cidadania de cada um. Não nos contam, mas o poder da participação é grandioso!
Do contrário, quando a gente silencia diante do absurdo, o que acontece é a tal da tragédia anunciada. Você sabia que chegamos ao fim de 2023 com menos médicos na rede pública de saúde do DF do que tínhamos em 2022? Isso não é aceitável. E não aceito porque sei que não falta verba para o SUS-DF. Você, paciente, também sabe. E é por isso que, por vezes, o paciente fica impaciente e desconta sua frustração justamente naqueles para os quais batemos palmas nas janelas durante a pandemia. Vocês se lembram disso?
A violência contra profissionais de saúde tem se tornado recorrente nas páginas dos jornais. Me diz, você conseguiria trabalhar bem com a ameaça constante de ser atacado física ou verbalmente? Não percam a perspectiva de que os médicos e demais profissionais que atendem agora nos hospitais, mesmo com dificuldades e uma escala que não cobre a demanda, são os mesmos que salvaram vidas na pandemia. Os heróis a quem tanto nos referimos diante da brutalidade de um vírus que matou (e ainda mata) 708.237 brasileiros.
Juntem-se a mim e a outros representantes de saúde para cobrar de quem deve ser cobrado. A conta pelo caos da saúde no DF não é dos médicos ou enfermeiros, ou técnicos de enfermagem. Há um governo! É da gestão pública que devemos cobrar. E quanto todos nós fizermos isso, acredito, eles ficarão sem saída. É preciso tirar o sonho da gaveta e dar voz a ele. Se não, o cansaço vai mesmo tomando todo o espaço. E a nossa força vem do exercício diário da busca por uma vida melhor.
E por falar em dias melhores… é isso que desejo a todos em 2024: mais qualidade de vida, direitos garantidos e muita, muita saúde! Que os nossos sonhos coletivos se unam, que a nossa voz seja ouvida e que a gente não deixe de ter paixão pela vida. Agora, um pouco mais experiente e sábio do que há alguns anos, concordo com o escritor Graciliano Ramos sem medo de errar: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Coragem. Vamos em frente. Feliz ano novo!