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samu pede socorro

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) foi instituído no Distrito Federal há 18 anos, com o objetivo de prestar atendimento pré-hospitalar de urgência – atropelamentos, acidentes de trânsito, entre outros atendimentos a pessoas que ainda não tiveram acesso ao sistema de saúde. Em vez disso, há anos, as ambulâncias do SAMU estão fazendo transporte de pacientes entre unidades públicas de saúde e, ainda por cima, com déficit de profissionais. O resultado é que, só este ano, mais de 46 mil atendimentos pré-hospitalares deixaram de ser feitos. Vidas anônimas estão sendo perdidas por causa disso. Por isso o SAMU pede socorro.

A movimentação de pacientes entre unidades de saúde deveria ser feito por um serviço específico da Secretaria de Estado de Saúde do DF, mas ele é insuficiente. Ele já foi terceirizado e, desde que o contrato de prestação de serviço por empresa privada foi rescindido, o SAMU passou a suprir a deficiência deixada.

Isso é reflexo de uma coisa recorrente na gestão da saúde do DF: o desvio dos meios e recursos para remediar uma situação crítica se perpetua e gera crise em outra área. É o improviso se impondo onde deveria haver planejamento e cumprimento de metas e com avaliação permanente de desempenho.

É um fato recorrente em toda a rede assistencial de emergência e urgência: com o déficit generalizado de médicos e demais profissionais de saúde nas emergências dos hospitais, levantam-se as “bandeiras de restrição” e desviam-se os pacientes para as UPAs, que já estão funcionando acima da capacidade, e para as unidades básicas de saúde. Isso faz aumentar a pressão sobre o SAMU, chamado para levar o paciente atendido na UBS, de volta para o hospital, quando precisa de internação.

E quando a atenção primária deixa de fazer o trabalho de prevenção e acompanhamento de doenças crônicas para atender emergências e urgências, os pacientes crônicos desassistidos desenvolvem quadros agudos e precisam recorrer aos serviços de emergência. É o efeito bola de neve, que perpetua e aumenta o caos e eleva os custos operacionais de todo o sistema de saúde.

Além do desvio de função, essa mesma desorganização e a falta de vontade política de fazer a saúde pública funcionar geraram um déficit de servidores no SAMU. Faltam 56 médicos e outros tantos enfermeiros, auxiliares de enfermagem e condutores socorristas.

Se você ligar para o 192 numa emergência, você corre o grande risco de não obter a ajuda necessária: primeiro porque faltam profissionais tanto no atendimento telefônico (regulação) quanto nas próprias unidades móveis de socorro. Em segundo lugar, as ambulâncias são desviadas para fazer o transporte de pacientes entre as unidades de saúde.

Assim, um serviço que era de excelência, o SAMU se vê sucateado e incapaz de atender às demandas que só ele, dentro da estrutura do sistema público de saúde, pode fazer. Todos perdem com isso, em especial aqueles cidadãos que nem sequer chegam a ser atendidos nas unidades de saúde e, anônimos, sofrem e até perdem as vidas sem que o Poder Público e a própria sociedade tomem conhecimento. E quando o atendimento do SAMU não ocorre ou demora, o paciente vai ter complicações e sequelas que vão aumentar o tempo de internação do paciente e os custos do tratamento para recuperar a saúde dele.

É urgente a necessidade de criar as condições para novas contratações de médicos e demais profissionais e o restabelecimento do serviço de transporte de pacientes da rede pública de saúde. Só assim será possível normalizar os serviços do SAMU e da assistência a emergências e urgências nos hospitais do DF e estancar o processo de deterioração que se alastra dia a dia no sistema público do Distrito Federal. Usar o SAMU como “tapa buraco” compromete toda a estrutura e o futuro da assistência à saúde da população do DF.

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