A Organização Meteorológica Mundial afirma que os últimos nove anos foram os mais quentes da história e que 2023 é o mais quente de todos. Isso desde que se passou a registrar metodicamente as temperaturas mundiais, a partir do século XIX, o que indica a necessidade de políticas públicas específicas para lidar com mudanças no clima.
O resultado são a elevação do nível dos oceanos, ondas de calor, inundações, tempestades e secas mais frequentes e intensas e com impactos diretos nas vidas das pessoas, inclusive na saúde delas, especialmente das mais vulneráveis: pobres, idosos, crianças, mulheres e imigrantes recentes.
Em países tropicais, como o Brasil, esses fatores podem influenciar na propagação de vetores de doenças, como o Aedes aegypti, que transmite a dengue, e o Anopheles, que transmite a malária. Nesse último caso, a Organização Mundial de Saúde aponta que houve um aumento global de ocorrências em relação a 2019, antes da pandemia da covid-19, em especial em localidades afetadas por enchentes.
Sem previsão de que venha a ocorrer uma reversão na escalada de fenômenos climáticos extremos, é previsto aumento de casos dessas e outras doenças infecciosas. Além disso, há impactos negativos na produção e na conservação de alimentos, na qualidade da água e do ar, além do próprio calor, em especial nas grandes cidades. E mais uma vez, com impacto na saúde da população.
Por si só, as altas temperaturas podem agravar ou agudizar condições como a hipertensão, tornar mais incômoda a gravidez, provocar vertigens e desidratação. A escassez ou a má conservação de alimentos, por sua vez, pode provocar insegurança alimentar. Tudo isso com repercussão negativa nas atividades cotidianas, como trabalho, estudo e na locomoção das pessoas, provocando queda na produtividade, quando não afastamento por doença, acidentes e maior demanda sobre os serviços de saúde.
Por isso, é necessário que as pessoas tomem medidas para se adaptar, tanto quanto empresas e governos precisam adotar práticas para mitigar os efeitos das condições climáticas extremas – inclusive o calor, como o que nos surpreendeu nas últimas semanas.
Em Nova York, por exemplo, se adotou a política de expansão das áreas verdes, para reduzir a concentração de calor de localidades densas em edificações. No Brasil, ainda patinamos na adoção de medidas para lidar com as condições climáticas extremas.
Aqui no DF, por exemplo, o calor em unidades públicas de saúde tem sido motivo de queixa de pacientes e de profissionais. Aconteceu recentemente no Hospital Materno Infantil de Brasília, o HMIB, e acontece todo dia em hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde. Refrigeração em unidades de saúde é básico, mas nem em situação normal isso está sendo provido. Imagine como fica a situação em uma onda de calor!
Até aqui, nosso foco tem sido lidar com as perdas materiais e no socorro às vítimas, como nos casos das enchentes, e sempre no improviso. Não tem vacina, como as desenvolvidas contra a covid, para combater os efeitos dos fenômenos climáticos extremos na saúde e no dia a dia das pessoas. Mas tem prevenção e ações que devem ser tomadas tanto em particular quanto em escala global e em todos os níveis de organização comunitária: países, estados, cidades e instituições.
No nível da vida privada, é necessário rever hábitos pessoais, adequar residências para garantir boa circulação de ar e ventilação. Em nível de governo local, adequar o transporte público, praças, parques e repartições públicas com refrigeração e condições adequadas de conforto para o cidadão e a relocação de populações de áreas de risco são algumas ações minimamente necessárias. A questão é: elas estão sendo feitas?