Na sexta-feira, dia 17, em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal, o GDF suspendeu o ponto facultativo dos servidores em atividades eletivas nas unidades públicas de saúde, que ocorreria na segunda-feira seguinte, dia 20. A princípio, a medida parece austera e acertada. Mas, na verdade, foi um improviso que revela a falta de planejamento e de respeito com os servidores da saúde e com os pacientes.
Explico: o ponto facultativo no Dia da Consciência Negra, junto com os outros, foi decretado em 19 de janeiro. E os dias previstos no decreto foram bloqueados para agendamentos de procedimentos eletivos. Ou seja, de última hora, foi definido que todos trabalhariam, mas devido ao bloqueio, não havia consultas, exames ou cirurgias eletivas marcadas. Os profissionais atingidos pela medida compareceram, mas não tinham pacientes para atender.
E a publicação do decreto ocorreu numa noite de sexta-feira! Não havia expediente no sábado e no domingo para tentar preencher os horários livres consultas e procedimentos eletivos da segunda-feira.
Na correria, aqui e ali houve iniciativas de convocar pacientes, afinal são mais de 840 mil aguardando consultas e exames, com espera média de 524 dias, e 18 mil esperando por cirurgias que, na média, demoram mais de 130 dias para serem realizadas. Essas informações são do Mapa Social da Saúde, do Ministério Público do DF, com dados da Secretaria de Saúde do DF.
O desrespeito é duplo: no caso dos servidores, com o aviso, lá em janeiro, de que não trabalhariam, qualquer planejamento que tivessem feito para o dia livre caiu por terra. E no caso dos pacientes é ainda pior.
O paciente precisa, no mínimo, de avisar previamente no trabalho que vai ter que faltar para fazer uma consulta, ou, se for autônomo ou tiver emprego informal, reorganizar os compromissos. No caso de cirurgia, a situação é mais complicada: é preciso fazer preparo, tem que avisar ao empragador ou aos clientes que vai se afastar, tem que conversar com a família, porque vai precisar de acompanhante no período de internação.
O paciente recebe uma ligação com um “vem amanhã!”, como se a realização de um procedimento cirúrgico na rede pública de saúde fosse um prêmio de loteria. Mas o que ele ganha é o sentimento de frustração e uma sensação de que não estão levando seu problema de saúde a sério.
Sem organização, sem planejamento, fazendo-se improvisos, perde-se a oportunidade de dar um atendimento mais digno e rápido aos pacientes. Passa-se uma impressão de desorganização que prejudica a imagem do SUS. E ainda por cima, cria-se mais insatisfação entre os profissionais de saúde, que já estão desestimulados pela sobrecarga de trabalho e com remuneração defasada.
Saúde pública se faz com planejamento e organização – é bom para os pacientes e para os profissionais de saúde quando a gestão funciona adequadamente. Os improvisos, como essa suspensão do ponto facultativo, podem soar bem aos ouvidos da parte da opinião pública que considera que há feriados em demasia no País, mas na prática surtiu o efeito contrário. Mais gestão (e menos improviso) fará mais bem à saúde do DF.