Estamos no Novembro Azul, mês da conscientização contra o câncer de próstata. Tornou-se uma tradição associar uma cor a uma campanha de prevenção ou promoção de saúde. No princípio foi uma estratégia eficiente no seu objetivo de levar aos meios de comunicação uma divulgação ampla a respeito de questões relevantes de saúde pública.
Mas essa estratégia parece estar perdendo a efetividade ao longo dos anos. Uma coisa é incentivar o aleitamento materno, como no Agosto Dourado, ou a doação de órgãos, no setembro verde. Mas quando o assunto da campanha exige mais do que incentivo, esclarecimento ou alerta, a coisa muda de figura: as campanhas de conscientização não substituem a oferta de serviços de saúde. É o caso do Novembro Azul.
A partir dos 45 anos, todo homem deve fazer dois exames anuais para verificar a saúde da próstata: o PSA, um exame que analisa uma proteína específica produzida pela glândula, e o exame de toque retal.
No Distrito Federal, por exemplo, temos uma população de mais de 400 mil homens acima dos 45 que deveriam fazer esses exames anualmente. Para aproximadamente um terço desses homens, os que possuem plano de saúde, a situação é fácil, pois no DF existem 229 médicos urologistas com registro ativo no Conselho Regional de Medicina. Mas conseguir o atendimento urológico especializado no serviço público não é tão fácil, pois existem apenas 27 especialistas em atividade na Secretaria de Estado de Saúde do DF.
Ou seja, faz-se a campanha de conscientização, mas não se dá ao público-alvo dessa campanha o acesso ao serviço de que ele precisa para a prevenção e até para o eventual tratamento do câncer de próstata.
E esse é o tipo de câncer mais comum entre os homens, depois do câncer de pele. Entre 2018 e 2019, morreram 42 homens por dia em função da doença e foram detectados 3 milhões convivendo com ela em todo o país. A previsão é de aumento dos casos. Para o período entre 2023 e 2025, o Instituto Nacional do Câncer prevê 72 mil novos casos por ano.
Mesmo com as estatísticas e projeções na mão, o serviço público de saúde não está preparado para dar assistência à saúde dos homens de forma satisfatória. Não é de hoje que aponto a falta de planejamento que é crônica na Secretaria de Saúde.
O Painel de Análise das ações Individuais de Saúde do Ministério Público do DF mostra que a demora e a falta de oferta de cirurgias urológicas é o terceiro maior motivo para ações judiciais na Justiça do DF. No dia 6 de novembro, o Painel registrava 267 processos judiciais. Também não faltam ações judiciais para conseguir uma consulta urológica.
Em resumo, a campanha de conscientização contra o câncer de próstata é uma iniciativa que perde o sentido sem a “acabativa” necessária. A conscientização do homem sobre a necessidade dos exames e do autocuidado tem que vir acompanhada da oferta do serviço de saúde especializado: consultas, exames, tratamento e demais procedimentros.
Não sendo assim, a campanha de prevenção não passa de uma ação publicitária que manda o cidadão ir a um medico que não está disponível, para fazer exames que não são ofertados para todos que precisam. A prevenção vira, assim, uma mera promoção do governo, como se, ao alertar o público-alvo sobre uma questão de saúde, o GDF estivesse fazendo a sua parte e o resto dependesse apenas do paciente.