Em meio ao cenário econômico em constante transformação, é crucial observar exemplos passados para antecipar possíveis desafios futuros. Alguns de vocês devem se lembrar do Banco Santos, que já foi um dos mais importantes do País. No entanto, faliu em 2005, após uma série de irregularidades financeiras e práticas fraudulentas em sua administração. Aqui no DF, o BRB parece estar indo para o mesmo caminho, com inconsistências de dados, parcerias duvidosas e deteriorização dos indicadores: o que é uma ameaça à aposentadoria dos servidores. Isso porque, em 2017, na gestão de Rodrigo Rollemberg, houve a transferência de 16,47% das ações do Banco de Brasília para recomposição dos recursos retirados do Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev).
À época, para quem não recorda, a transferência foi uma “compensação” de saques do Iprev feitos pelo GDF antes da reforma da Previdência, aprovada em setembro daquele ano. Manobra que teve apoio do Movimento Sindical, mas foi questionada pelo Sindicato dos Médicos do DF. Em um dos saques ao Iprev, Rollemberg tirou de uma só vez R$ 1,3 bilhão da previdência dos servidores. Também na mesma época, o então governador alterou a Lei de Previdência dos servidores do DF. Conhecido como “PLC do Espanto”, o texto unificou os fundos do Iprev, além de implantar a previdência complementar: medidas imprudentes, das quais não podemos nos esquecer.
Agora, uma série de reportagens do Correio Braziliense indica que os números do banco são preocupantes e há tendência negativa nos balanços. No fim de outubro, o Banco Central chegou a obrigar o BRB a refazer seus balanços, de 2022 e de 2023, por causa de lançamentos indevidos de receitas, o que provocou danos nos demonstrativos financeiros da instituição que, vale salientar, é controlada pelo GDF. Após refazer os cálculos, o Banco de Brasília passou de um lucro líquido de R$ 69,9 milhões para um prejuízo de R$ 43,3 milhões. Em tempo: a instituição financeira é responsável pelo processamento de folha pagamento de toda a estrutura estatal do GDF.
Nos primeiros seis meses deste ano, as correções nos balanços do BRB chegaram a R$ 173,8 milhões, dos quais R$ 75,8 milhões são referentes a dividendos recebidos indevidamente de uma reestruturação societária envolvendo a BRBCard. E R$ 77,5 milhões decorrentes de uma parceria da instituição com a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa para a exploração de jogos e loterias. Após o pedido do BC para refazer os balanços, a parceria foi desfeita. Mas, depois disso, outra série de escândalos começa a aparecer.
A parceira do BRB com o Flamengo, que resultou na Nação BRBFla, também não é nada vantajosa. De acordo com apuração do Correio Braziliense, se o cenário dramático da sociedade não for revertido, no decorrer deste ano, o BRB terá de assumir que teve mais R$ 295 milhões em prejuízos ao emprestar dinheiro para torcedores do Flamengo. Nesta conta, além dos “caloteiros”, outro beneficiado é o próprio time de futebol. Além de não arcar com nenhuma parcela dos prejuízos acumulados pela Nação BRBFla, ele recebe, periodicamente, uma bolada do Banco de Brasília. Apenas em julho, a agremiação recebeu R$ 22 milhões em patrocínios do BRB.
E a deteriorização do BRB não para por aí. Há outras movimentações sob suspeita. Por que ainda não tivemos a abertura de uma CPI? Na última semana, foi anunciado que o presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, irá até a Câmara Legislativa para dar explicações sobre a situação financeira da instituição pública. Ainda assim, é pouco. É necessário que nossos distritais e outros órgãos de fiscalização ajam de maneira mais enfática. Trata-se do futuro da aposentadoria dos servidores. E até o momento não vimos nenhum parlamentar representante da Saúde se manifestar sobre o Iprev. Se continuar assim, o colapso é certo.