Quantas vezes, apenas nesta semana, você sentiu que o fardo é maior do que pode carregar? Quantas vezes, no ano, você se sente sozinho, cercado por demandas, e pensa “acho que não estou bem”? Estou fazendo essas perguntas para levar à reflexão sobre saúde mental. E o quanto é importante que ela seja acessível para que o cidadão tenha qualidade de vida. Afinal de contas, a campanha Setembro Amarelo – de prevenção ao suicídio – alerta para a importância do tema. Ainda assim, ele parece não ser uma prioridade quando se trata de políticas públicas.
No Brasil, a campanha acontece desde 2015. No entanto, na Capital do País, funcionários e pacientes da rede pública denunciam o déficit de profissionais. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), que acolhem os usuários do SUS, estão cada vez menos acessíveis. No Hospital São Vicente de Paulo, que é uma unidade de referência para saúde mental, por exemplo, estão aumentando o número de pacientes e reduzindo o número de psiquiatras. Resultado: mais pacientes, menos médicos, consultas mais rápidas, superficiais e insuficientes.
Em outubro, segundo a Secretaria de Saúde, alguns contratos temporários de psicólogos dos CAPs acabam. O número de psiquiatras na rede pública é de apenas 100. Em todo DF, há 456: dados da Demografia Médica, de 2023, da Associação Médica Brasileira (AMB). Quem precisa de acompanhamento, certamente, terá de interrompê-lo. Além de desumana, a realidade do DF vai na contramão da orientação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAs), que, em relatório divulgado este ano, alertou: “a saúde mental deve ser colocada no topo das agendas políticas e integrada a todos os setores e políticas”.
No Brasil, mais de 12 milhões sofrem de depressão. Segundo dados oficiais, há aproximadamente 14 mil casos de suicídio por ano. Ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. De acordo com o Ministério da Saúde, entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio está entre uma das principais causas de morte. O cenário é triste. E mais triste ainda é pensar que existe prevenção. Só não há esforço político para isso.
O DataSUS, plataforma do governo federal que concentra informações relativas à saúde no Brasil, aponta ainda que as mortes por lesão autoprovocada entre 2011 e 2020 aumentaram 35%. É preciso olhar com muita atenção para a saúde mental dos brasileiros. O fato é que a pandemia agravou os casos de depressão. E as políticas públicas não podem ignorar isso.
Como médico, representante de uma classe que sofre diariamente com a pressão das horas e das condições de trabalho, asseguro: uma população adoecida, física e mentalmente, dificilmente conseguirá atingir bons níveis de bem-estar e desenvolvimento. A gestão pública do DF precisa rever suas prioridades de investimento. Saúde mental não pode ser luxo nem privilégio para poucos. A rede pública tem que oferecer condições de tratamento a quem precisa. Por isso, contratar profissionais – com condições dignas de trabalho – é urgente!
Centro de Valorização da Vida (CVV): Disque 188.