Quando você procura um hospital, uma unidade básica de saúde ou uma UPA, vai em busca de alívio para um problema. A última coisa que se quer é encontrar mais sofrimento. Também nós, profissionais de saúde, quando saímos todos os dias para trabalhar não desejamos encontrar mais dores, além daquelas que as doenças provocam. Infelizmente, pacientes e profissionais de saúde estão tendo que lidar com outra questão além das doenças: violência em vez de paz na saúde.
Aqui no Distrito Federal teve destaque na imprensa o caso da jovem que tentou matar uma técnica de enfermagem com uma faca, na UBS 12 de Samambaia, e acabou ferindo um vigilante. No Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, no Rio de Janeiro, uma médica foi jogada no chão e espancada por um homem e sua filha. Uma paciente grave que a médica estava atendendo faleceu enquanto ela era agredida.
Depois, foi revelado que essa médica estava sozinha em um plantão com 60 pacientes sob seus, 20 deles em estado grave, uma condição desumana de trabalho. O agressor partiu para a violência porque ficou irritado por ter que esperar o atendimento de que precisava. Seu gesto é injustificável. O contexto em que ele ocorreu do mesmo modo é inaceitável.
Ainda que fosse alguém que perdeu a razão por estar desesperado, em uma situação grave, uma conduta violenta não seria aceitável. Mas não é necessariamente o que ocorre. Muitas vezes o usuário do SUS já chega à unidade de saúde predisposto a um confronto, com uma ideia pré-concebida de que o atendimento é ruim.
Esta semana, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro divulgou um levantamento, feito entre dezembro de 2018 e junho de 2023, que mostra a ocorrência de agressões físicas e verbais contra médicos pelo menos a cada três dias. De 546 casos registrados, 67% aconteceram na rede pública.
E não é de hoje que as autoridades têm conhecimento das origens e da gravidade do problema. Um estudo de 2018, disponível no site do Ministério da Saúde, aponta que as agressões psicológicas e físicas contra profissionais de saúde ocorrem por condições impróprias de trabalho no atendimento aos pacientes.
A conclusão dos pesquisadores não podia ser outra: é preciso adotar medidas de prevenção e aumentar os investimentos para melhorar as condições e a organização do trabalho nas unidades de saúde.
O que vemos, no entanto, é que não têm sido adotadas as medidas adequadas sequer para minimizar as causas da insatisfação dos pacientes. Tomam o profissional de saúde, injusta e erradamente, como a origem do seu problema. A verdade é que o número de médicos e demais profissionais de saúde não acompanha o crescimento da demanda. A falta de medicamentos, equipamentos, materiais de trabalho, exames e demora no atendimento permanecem como problemas crônicos.
E, enquanto isso, vamos assistindo unidades básicas de saúde, UPAs e hospitais virarem verdadeiros campos de batalha. Justamente os locais onde as pessoas vão em busca de cuidados e de cura!
Precisamos de paz na saúde. E para isso, é necessário que os governos, aqui no DF e em todo o Brasil, façam a sua parte. É preciso dar aos profissionais as condições adequadas de trabalho. É preciso respeitar o direito constitucional de cada o paciente à saúde.
Não podemos permitir que haja, nos locais de atendimento à população, mais sofrimento do que as doenças já impõem às pessoas. Paz para trabalhar. Paz para curar. Paz para viver.