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Saúde da Mulher no DF pede socorro

Saúde da Mulher

No Mês da Mulher (março), o Distrito Federal tem pouco a comemorar. Infelizmente, no que diz respeito à Atenção à Saúde da mulher o que vemos é o descaso. E os números provam isso. Com mais de 52% da população composta por mulheres (aproximadamente 154 mil com idades entre 50 e 69 anos), em todo o ano de 2022 apenas 1.345 mamografias foram realizadas. E muito embora a gestão pública faça do mês de outubro uma espécie de “programa” para a realização dos exames, o fato é que a baixa oferta da mamografia resulta em 70% dos casos de câncer de mama com diagnósticos em estágio avançado.

Ao longo dos anos, venho chamando a atenção para a falta de continuidade de políticas públicas de saúde nas trocas de governo. Acontece que esse é um problema grave, que afeta, entre outras coisas, a saúde da mulher. É preciso fazer gestão permanente. A descontinuidade administrativa na gestão pública faz com que o acesso à saúde da mulher seja, ano a ano, um desafio. Praticamente um calvário. Porque quando um câncer, por exemplo, é diagnosticado, a Lei determina que o tratamento seja iniciado em no máximo 60 dias: isso não acontece hoje no DF.

E o câncer está longe de ser o único problema na Atenção à Saúde da Mulher no DF. O descaso com a saúde das mulheres começa no fato de não se oferecer consulta ginecológica de rotina na Atenção Primária (postos de saúde/UBSs). Aqui, é importante salientar: as UBSs são o caminho para a prevenção de doenças. É por esta porta de entrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) que são feitos os cuidados primários aos pacientes: mulheres, homens e crianças. Portanto, não tem como falar em prevenção quando, segundo dados do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), o DF tem a pior cobertura da Atenção Primária no País.

Segundo o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), que existe desde 2003, os Estados e o DF devem “promover a melhoria da saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliar o acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde”. Dentro das diretrizes, está previsto o objetivo de “eliminar a sífilis congênita como problema de saúde pública” (quando a doença é transmitida de mãe para filho). No entanto, no DF, não é o que acontece.

Na Capital do País, os casos de sífilis vêm aumentando. Entre os anos de 2017 a 2021, foram notificados 9.813 casos de sífilis adquirida, 3.370 casos de sífilis em gestantes e 1.645 casos de sífilis congênita. Quando no anúncio dos dados, no ano passado, um dos representantes da Secretaria de Saúde reconheceu: “Precisamos rever os processos de trabalho, principalmente na Atenção Primária, para melhorar a capacidade de diagnóstico e tratamento, reduzindo assim a transmissão, principalmente, da sífilis congênita. Além disso, fortalecer o pré-natal, que é onde a gestante é acompanhada”.

A prevenção da sífilis congênita é realizada por meio de pré-natal adequado e com qualidade. Por isso, é fundamental que o teste para a doença seja ofertado para todas as gestantes. O que também não ocorre no DF. Entre as complicações da sífilis congênita estão: aborto espontâneo, parto prematuro, malformação do feto, surdez, cegueira, alterações ósseas, deficiência mental e/ou morte ao nascer.

Como disse no início deste artigo, política pública em saúde é compromisso para além da troca de governos. Precisa ser um projeto de longo prazo – muito mais do que quatro anos. Sem isso, o “mês da mulher”, a exemplo do outubro rosa, não passará de marketing para inglês ver. É preciso fazer da Atenção Primária uma verdadeira porta de entrada para o SUS, com ginecologistas e outros médicos especialistas. E sempre vou bater nesta tecla. É necessário reverter o Converte (programa de Rodrigo Rollemberg que tirou médicos especialistas das UBSs).

No mais, desejo que, no próximo mês da mulher, eu possa estar aqui para dizer que a situação mudou: para melhor. E que finalmente o número de mortes evitáveis (como acontece com o câncer de mama) está em queda. Como ginecologista, sei que o melhor presente neste e em outros meses é: saúde, dignidade e respeito. Nem mais e nem menos. Precisamos, com urgência, da permanência das políticas públicas em saúde, para que perdure e reverta a situação atual.

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