O calendário da saúde é multicolorido. Dentre as campanhas de prevenção de doenças, em dezembro o foco é o câncer de pele – o Dezembro Laranja. O Instituto Nacional do Câncer aponta que o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma, que concentra, sozinho, 31,3% do total de casos de neoplasias (câncer) do País. No DF, a taxa de ocorrência para 2023 está prevista em 34,29 casos para cada 100 mil habitantes e representa 1.063 novos casos no próximo ano.
Novos pacientes que vão se juntar a outros que, na imensa maioria, já aguardam nas filas da rede pública de saúde, sobrecarregando um sistema subfinanciado e com limitações históricas que não permitem dispensar os melhores cuidados aos pacientes que deles necessitam.
No caso do câncer de pele, evitar exposição direta ao sol das 10h às 16h; usar proteção adequada (bonés, chapéus de abas largas, roupas que cubram bem o corpo, óculos escuros com proteção UV, sombrinhas, barracas) e filtro solar a cada duas horas durante a exposição ao sol deixaria os hospitais menos sobrecarregados com novos casos.
Vamos dar perspectiva à situação fazendo um paralelo com a pandemia da covid-19, que provocou o colapso das unidades de saúde em todo o planeta. Antes dela, doenças que podem ser evitadas com cuidados preventivos (que deviam ser incentivados com campanhas de prevenção), sem internação hospitalar e tratamentos penosos, como o câncer de pele e em outros órgãos, diabetes, hipertensão e cardiopatias já provocavam colapsos semelhantes. O sistema público de saúde nunca dispôs dos recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos suficientes para fazer frente ao adoecimento de uma população que cresce a cada dia.
Caso tivéssemos uma cultura pessoal e comunitária de prevenir antes de remediar, os recursos existentes seriam aproveitados em ações de atenção básica de saúde. Substituiríamos a realidade de hospitais superlotados e cheios de doenças e riscos por um cenário no qual a população adoeceria menos.
Isso, é claro, não exime o Estado da obrigação de garantir a cada cidadão o direito à assistência em saúde. Mas a necessidade de recorrer a essa assistência seria menor.
Não podemos deixar de observar que ações para prevenção a doenças evitáveis tanto devem integrar políticas estatais quanto devem fazer parte dos hábitos de cada indivíduo, que sofre com os efeitos da doença e os da insuficiência da estrutura que o Estado oferece para o tratamento. Ou seja, campanhas de prevenção não devem ser pontuais, mas permanentes, como do caso da dengue, por exemplo.
Se as políticas públicas e a conscientização da população atingissem um padrão ideal, a assistência à saúde até poderia continuar deficitária, mas certamente seria mais efetiva e eficaz, com campanhas de prevenção de doenças permanentes e continuadas.
Se continuarmos na toada atual, os recursos nunca serão suficientes para a saúde. Devemos cobrar do Estado e dos governantes as garantias de acesso à assistência à saúde a cada cidadão, mas também precisamos desenvolver, todos nós, uma cultura de saúde, cuidando melhor de nós mesmos e daqueles que nos são queridos.