O mês de novembro começou e traz com ele uma importante campanha voltada à saúde dos homens, que trata da necessidade de prevenção ao câncer de próstata, um dos mais frequentes entre os brasileiros. No entanto, mais do que isso, o alerta vai além e mostra, sobretudo, que os homens se preocupam menos com a saúde do que as mulheres. Em um cenário de grave desassistência no SUS, o resultado é que, para ambos os sexos, a saúde acaba ficando para depois.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 8.820 brasilienses desenvolveram, entre 2020 e 2022, algum tipo de câncer. O câncer de próstata está na ponta das incidências. Logo atrás, vêm os casos de tumores na mama. Em 2021, até agosto, foram contabilizadas 853 internações por câncer de mama na rede de saúde do DF. A doença foi matou 256 pacientes em 2020, e 136 até setembro do ano passado. Ou seja, uma morte a cada dois dias. E, de lá para cá, o cenário pouco mudou – apesar da política das carreatas do Outubro Rosa.
No Brasil, existe, tanto para mulheres quanto para homens, a Política Nacional de Atenção à Saúde. Acontece que, no que diz respeito à saúde da mulher, os investimentos caem ano a ano: fato que levou deputadas e senadoras a questionarem despesas do Orçamento com mulheres em abril deste ano. E no DF, apesar dos R$ 8 bi que deveriam ser destinados à saúde em 2022, o que ainda se vê são filas intermináveis para rastreamento e tratamento de diversas doenças relacionadas às mulheres – como o próprio câncer de mama.
Vale salientar que para reduzir a mortalidade do câncer de mama é necessário melhorar o acesso ao diagnóstico em até 60 dias. Isso mesmo: dois meses. Isso inclui a consulta na atenção básica, a mamografia, a ecografia, a consulta médica especializada, a biópsia e o retorno médico para conclusão do diagnóstico. O que acontece no DF? A maioria das mulheres sequer chega à mamografia neste prazo.
Voltando, agora, à saúde dos homens. É necessário, sim, fazer uma ampla campanha para que homens cuidem mais e melhor da saúde. Infelizmente, tabu da masculinidade impede que a maioria dos homens busque a assistência à saúde. No Brasil, o câncer é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não melanoma). A doença é grave e pode matar. No entanto, com diagnóstico precoce e tratamento há 90% de chance de cura.
Agora, a pergunta: na rede pública, esse diagnóstico precoce e tratamento são uma realidade? Acredito que não.
Mais do que campanhas que lembram a importância dos cuidados com a saúde, é urgente investir no SUS para que ele tenha capacidade de exercer o seu papel: assistência à saúde população. Enquanto a saúde não for levada a sério pelos nossos gestores, entra campanha, sai campanha e a população, ainda que procure mais os serviços de saúde, continuará a ver navios, com mortes evitáveis. É preciso oferecer aos usuários da rede pública condições para que consigam lutar por suas vidas. Publicidade não salva ninguém.