Especialmente agora, às vésperas das eleições, ouvimos muito falar sobre as fake news. Disseminar notícias inverídicas virou uma verdadeira epidemia nos últimos anos, em função do crescimento do mundo virtual, onde todo mundo, sabendo usar as ferramentas, pode lançar aos quatro ventos as próprias “verdades”, informações enviesadas ou mesmo falsas a respeito de qualquer um ou de qualquer coisa.
De fato, esse comportamento cresceu muito nos últimos anos e é motivo para preocupação. Não é simples fofoca, porque, além de ser uma prática planejada, com uso de técnica e método, faz disseminação maciça de informações falsas, distorcidas ou descontextualizadas com objetivos definidos – não é nada ao acaso nem de graça. É criminoso mesmo. Mas não chega a ser uma novidade. Exceção feita ao deep fake, aquela nova técnica em que se usa, por meios de edição eletrônica, a imagem e a voz de qualquer pessoa, com a mensagem que o editor das imagens bem entender – o que é perturbador.
Há cem anos, meses antes das eleições de 1922, o então candidato à presidência da República, Arthur Bernardes, foi alvo de fake news: cartas forjadas, publicadas pelo periódico Correio da Manhã, que renderam muita confusão pré-eleitoral e prenunciaram um mandato altamente conturbado.
É uma coisa quase instintiva, as pessoas tendem a acreditar naquilo que veem escrito, seja na internet, em um jornal ou revista e, até mais ainda, em livro. Ok, mas quem escreve? Quais são os interesses e as intenções de quem escreve? Por que essa pessoa escreve? Essa pessoa tem propriedade para escrever sobre aquilo que escreveu?
Ao buscar e receber informações não podemos abrir mão do bom senso e da capacidade crítica. Não é porque chegou no WhatsApp uma informação que ela é necessariamente fidedigna à realidade ou honesta nas intenções. Como não eram verdadeiras as tais cartas do Correio da Manhã atribuídas a Arthur Bernardes.
Tendemos a tomar como verdades as mensagens que estão dentro do campo de padrões significativos similares às ideias e percepções que construímos da realidade ao longo da vida – inclusive nossas crenças, medos, desejos, simpatias, antipatias. Nem tudo racional. Quando se fala de futebol, religião ou política, as paixões ganham peso imenso e afetam nossa capacidade de julgamento. Então, muita serenidade antes de formular julgamentos!
Além de tomar cuidado com o que falam mal ou bem de candidato A ou B, é bom também prestar atenção crítica ao que dizem esses candidatos. Não raro, os discursos e propostas de A e B carregam meias verdades, interpretações distorcidas de fatos ou mentiras deslavadas – desta forma, se aproximam muito das fake news.
Trocando em miúdos: infelizmente, o embate político no Brasil e no mundo, não tem seguido somente o caminho do debate de ideias e do convencimento pelo discurso da construção de consensos. Lamentavelmente, é comum que se recorra à deslealdade com o eleitor e aos ataques contra os adversários.
Em especial neste período eleitoral, vamos extrapolar a noção de que olho serve para ver e ler e ouvido serve para escutar. Nestes dias que antecedem as eleições, vamos um pouco além do que nos ensinam a biologia e a anatomia e passemos a considerar que olhos e ouvidos fazem parte do sistema avaliativo crítico do corpo do eleitor: olhos abertos, ouvidos atentos e senso crítico ligado em volume máximo. Não se deixe enganar.