A OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou que a varíola do macaco é uma emergência sanitária global. Isso significa, em outras palavras, que a doença constitui risco de saúde pública por meio de disseminação internacional, e potencialmente, requer uma resposta global coordenada – como deveria ter sido com a covid-19. No entanto, para nossa decepção, no Distrito Federal acontece de novo o mais do mesmo.
O total de casos confirmados de varíola do macaco subiu para 13 na capital do Brasil. Há mais 14 suspeitos em investigação, segundo o Ministério da Saúde. Em todo o país, os registros somam 696 diagnósticos. Até agora, você viu o DF falando em prevenção ou monitoramento de casos? Eu não. Mas, o que se sabe até aqui é que, além da vacinação, a redução do risco de infecção ocorre com o uso de máscara, já que ela é transmitida por gotículas de saliva, e evitando o contato com infectados: o nosso conhecido isolamento social. Além disso, também é importante a higienização das mãos.
Você deve ter reparado que duas das orientações contra a varíola do macaco se aplica também à covid-19 (pandemia que ainda não acabou): uso de máscara e higienização das mãos. Mas, não há campanhas reforçando essas necessidades, ainda que atitudes simples, como essas, sejam capazes de reduzir o número de infecções tanto de uma doença quanto de outra. O nome disso é prevenção. Mas, ressalto novamente, para nossa não surpresa, esse não é o caminho adotado pela atual gestão do DF.
Depois da prevenção, temos a testagem. Tentou prevenir e não deu? Está com sintomas, como dor de cabeça, início de febre acima de 38,5°C, linfonodos inchados, dores musculares e no corpo? É preciso fazer o exame. No entanto, na rede pública do DF ele é inexistente. Os casos prováveis são enviados ao Ministério da Saúde e as amostras são testadas no Rio de Janeiro. Os resultados demoram nada menos do que 15 dias para sair.
Casualmente, após a OMS declarar emergência mundial, a Secretaria de Saúde disse, dois dias depois, que está treinando servidores e comprando testes mais rápidos para o DF: com resultados em 48 horas. Que bom se for assim. Mas, enquanto isso, o que sabe é que os casos suspeitos não estão sendo monitorados. Há a promessa: “vamos acompanhar”. E, quando o paciente chega em casa, “adeus”. Ninguém mais liga para saber da evolução do diagnóstico.
Vale lembrar que foi assim com a covid-19.
LIÇÃO NÃO APRENDIDA
Lembro que, assim que anunciados os primeiros casos de covid-19 no DF, avisei: essas pessoas, com suspeita, precisam ser testadas e monitoradas. Porque somos uma rede. Vivemos em sociedade. Antes de o indivíduo supostamente fazer isolamento, teve contato com outras pessoas. É bem óbvio, mas precisa ser dito.
Agora, nada de novo sob o sol. O anúncio da compra de testes é tardio. E o monitoramento, mais uma vez, é deixado de lado, tratado como algo não relevante.
Não, a varíola dos macacos não tem altas taxas de mortalidade. Pelo contrário. É uma doença de pouca gravidade. Contudo, a disseminação do vírus, em diferentes países, pode se tornar um problema de saúde pública mundial por uma série de fatores. Incluindo a maior gravidade em certos públicos: pessoas com menos de 50 anos – já que as campanhas de vacinação contra a varíola foram interrompidas pelo mundo quando a doença foi erradicada, em 1980.
Assim como foi com a covid-19, a resposta mais rápida contra a doença é a prevenção. Uma epidemia, endemia ou pandemia de varíola dos macacos pode nos ser muito grave. O SUS ainda lida com as demandas do coronavírus. O Sistema Público de Saúde do DF continua sucateado após anos de negligência. Um novo vírus, se espalhando rapidamente, é uma ameaça, em especial, à saúde pública.
Se não há servidores, vacinas contra a doença, estrutura física, postos de saúde e hospitais suficientes, por que não investir em prevenção? Aqui, vale lembrar: pacientes imunocomprometidos e crianças podem desenvolver doenças mais graves e isso pode acarretar em mais problemas de saúde pública.
Chega, né? Passou da hora de o Distrito Federal levar a saúde a sério.
Para a varíola, prevenção e monitoramento (e vacinas). Para a covid-19, ampla vacinação. Para os gestores, compromisso com a saúde e, sobretudo, consciência. Verba pública é para investimento.