Ceilândia, a maior cidade do Distrito Federal, chega aos 51 anos de uma história de muita luta. O que eu desejo para a cidade nesse aniversário é mais justiça social a começar de maior oferta de assistência à saúde. Ceilândia foi a segunda cidade com mais casos diagnosticados de covid-19 no DF: 68.303 casos, até o dia 23 de março, enquanto o Plano Piloto teve 79.910 casos. Mas é no número de óbitos que se vê a iniquidade: no Plano Piloto, 831 pacientes foram a óbito. Em Ceilândia, apesar de menos casos de contaminação, os óbitos foram 1.751 – mais do que o dobro.
Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios de 2018, na Asa Sul, 77,9% dos moradores tinham plano de saúde. A média subia na Asa Norte para 79,4% e chegava a 88,2% no Noroeste. Em Ceilândia, a parcela da população com plano de saúde era de 18,6%, sendo que 10,6% deles eram planos empresariais. E, com a pandemia, veio o desemprego. Descontando o Hospital São Francisco, que é particular, ficou na conta das equipes das unidades públicas de saúde especialmente do Hospital Regional de Ceilândia, o cuidado de tanta gente.
Em 2018, o desemprego atingia 10,1% da população economicamente ativa de Ceilândia. No auge da pandemia, em dezembro de 2020, chegou a 21,5% e fechou o ano de 2021 em 20,1%. Ou seja, por aí já se pode inferir que houve uma queda na quantidade de famílias com plano de saúde.
A situação de boa parte das famílias em Ceilândia tem sido tensa nesses últimos meses. Mas o povo da cidade segue firme, enfrentando as dificuldades, como fez desde o início, quando os moradores das vilas do IAPI, Tenório, Esperança, Bernardo Sayão e Morro do Querosene foram desembarcadas em caminhões no descampado com lotes marcados por estacas e barbantes – sem asfalto, sem água encanada, sem luz e nuvens de poeira vermelha que subiam a todo instante, com o trânsito dos caminhões.
Daqueles 18 mil lotes, a cidade cresceu e prosperou para mais de 135 mil residências de lutadores, para os quais a pandemia foi mais um capítulo numa narrativa de muitas histórias de superação. E o Hospital Regional de Ceilândia é uma parte vital na história de muita gente ali – mais da metade da população da cidade é nascida aqui mesmo no DF.
Seria de esperar que, hoje em dia, a gente visse mais as histórias positivas das realizações e conquistas dos ceilandenses do que o que as notícias que vemos na imprensa, sobre a falta de assistência à saúde, violência urbana, transporte público caótico e falta de saneamento em algumas áreas.
É vital ampliar o HRC, transformar o galpão que batizaram Hospital da Cidade do Sol em um hospital de verdade e de portas abertas à população, complementar as equipes de Saúde da Família nas unidades básicas de saúde e retomar os programas de acompanhamento e prevenção que essas equipes hoje encontram dificuldades para realizar.
Ceilândia tem um potencial imenso a ser realizado e a oferta de assistência à saúde de boa qualidade é um elemento essencial para esse potencial se realize. Ao povo de Ceilândia eu desejo saúde, conforto pelas perdas ocorridas na pandemia e um futuro próspero, com paz e justiça social.