Duas notícias recentes causaram comoção: no dia 29, o ex-apresentador do Big Brother Brasil, Tiago Leifert, divulgou que a filha Lua tem diagnóstico de retinoblastoma, um tipo de câncer nos olhos. Dois dias depois, aqui no Distrito Federal, fomos impactados pela triste notícia da morte de um bebê de 1 ano e quatro meses, por covid-19, enquanto esperava por um leito de UTI pediátrica na rede pública de saúde do Distrito Federal.
O retinoblastoma corresponde a cerca de 3% das neoplasias (cânceres) pediátricos e dois terços dos casos ocorrem antes dos dois anos de idade. Pelas estimativas das autoridades sanitárias, atingiria em torno de 562,5 indivíduos de 0 a 19 anos por ano. Felizmente é uma doença tratável, especialmente se o diagnóstico é feito precocemente. Daí a importância do posicionamento público de Leifert. E ele mesmo relatou que já recebeu agradecimentos de pessoas que reconheceram os sintomas nos filhos pequenos e, assim, iniciaram os tratamentos.
O desejo de todos nós para a filha de Tiago Leifert é de plena e rápida recuperação. O diagnóstico foi precoce e ela está recebendo toda a assistência necessária – o que não ocorreu no segundo caso, aqui em Brasília. O bebê foi atendido com um quadro de pneumonia, mas os recursos não foram suficientes para salvá-lo e o resultado do teste de covid foi tardio. É uma situação que leva sofrimento não só as famílias, mas também os profissionais de saúde, que vêm situações como essa se repetirem sem ter às mãos os recursos para impedir o desfecho fatal.
E essa situação não se restringe à falta de leitos de UTI para pacientes com covid. Os óbitos hospitalares por outras causas aumentaram no DF nesses mais de dois anos de pandemia. Segundo o sistema de transparência dos cartórios, os óbitos por causas diversas (não especificadas) dentro dos hospitais do DF passou de 4.053, em 2019, para 4.801, em 2021. Isso reflete a insuficiência de profissionais, de leitos, de equipamentos, de medicamentos e insumos para dar à população que depende do SUS um tratamento mais humano e de qualidade.
São milhares de casos anônimos que não chegam ao conhecimento geral de óbitos evitáveis e de sequelas decorrentes dessa falta de recursos. Os diagnósticos não são feitos a tempo e os tratamentos são prejudicados, quando se consegue iniciá-los. E não estamos falando de casos raros como o retinoblastoma da menina Lua. São doenças e ocorrências cujas estatísticas permitem um melhor planejamento e preparo do sistema de saúde. Mas ele não é feito.
É possível corrigir isso? Não é tarefa fácil e não se pode garantir êxito pleno. Mas o planejamento, a orientação adequada das políticas públicas, o devido abastecimento das unidades de saúde e uma melhor gestão dos recursos humanos e materiais pode diminuir tanta dor e sofrimento e gerar melhores resultados tanto na preservação quanto na qualidade de vida dos pacientes que dependem do serviço público de saúde. Para isso é necessário ter claro que a saúde tem que ser política de Estado, independente de quem ocupe ou venha a ocupar os cargos de decisão a cada eleição.