Considerando que temos quase 1.600 pediatras inscritos no Conselho Regional de Medicina, não deveria haver problemas no atendimento das nossas crianças no Distrito Federal. Mas a realidade é que o acesso ao atendimento especializado em saúde infantil está difícil para as famílias que dependem da rede pública de saúde.
Levantamentos da quantidade de médicos no Brasil indicam que, em média, 50% deles prestam atendimento pelo SUS. Aqui no DF, só um terço dos pediatras foram contratados pelo governo.
De acordo com a folha de pagamento de novembro de 2021, a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) só tem 554 médicos pediatras. Esses são os que estão disponíveis para aproximadamente 551 mil crianças entre 0 e 14 anos de idade que compõem a nossa população (segundo dados do IBGE). Só aproximadamente 49 mil crianças, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estão cobertas por planos de saúde.
Nos últimos cinco anos, diminuiu o número de pediatras na folha de pagamento da SES-DF. Leitos e portas de atendimento às crianças, em vez de serem ampliados foram fechados. A Secretaria tem menos 83 pediatras hoje do que tinha em 2016. O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGESDF) só tem 47 – ou seja, não cumpriu a promessa de aumentar a oferta de assistência. O que é de estranhar, quando se vê o governo fazendo propaganda de que “contratou mais de 8 mil profissionais de saúde” na atual gestão. A verdade é que a pediatria encolheu no serviço público de saúde do DF.
Nos postos de saúde não tem mais o atendimento pediátrico especializado. A pediatria do Hospital Regional do Gama foi fechada no começo do governo Rollemberg, a do Hospital Regional da Asa Norte foi fechada no ano passado, os leitos pediátricos no Hospital Regional do Guará foram reduzidos e as unidades de pediatria dos Hospitais de Ceilândia, Taguatinga e do Paranoá enfrentam problemas, a começar pela quantidade insuficiente de profissionais especialistas. Não vou nem falar em falta de medicamentos e insumos hospitalares para o atendimento de saúde ou das notícias frequentes de falta de merenda escolar nas escolas públicas.
O mundo enfrenta a pandemia da covid-19, mas a pediatria há anos sofre com as epidemias dos vírus respiratórios com o paciente infantil, principalmente os menores de dois anos de idade, que superlotam os hospitais. No lugar de trabalhar com um plano de ação, o governo local a cada ano toma medidas de destruição de serviços pediátricos desde o que fez com a atenção primária até o que faz no nível terciário.
A situação é mais grave do que parece. O atendimento pediátrico não é só para emergência. A atenção à saúde da criança e do adolescente é fundamental, pois vai ter reflexo na vida adulta. Quanto melhor for o cuidado com a saúde, com a alimentação e com o desenvolvimento das nossas crianças, menos problemas de saúde eles estarão propensos a ter na vida adulta. E isso terá reflexos até nos gastos privados e públicos com saúde no futuro.
É necessário estabelecer um plano consistente para aumentar a oferta de assistência à criança e ao adolescente, a começar dos hospitais e UPAs. Mas é imprescindível que voltemos a ter pediatras nas unidades básicas de saúde, os antigos postos de saúde, para fazer o acompanhamento adequado da saúde e do desenvolvimento daqueles que todos nós temos obrigação de cuidar e defender. Cuidar deles agora, é a melhor garantia de que serão mulheres e homens fortes e mais preparados para conduzir o futuro de todos nós.