Criou-se no Distrito Federal o caso inimaginável em que o médico optou por salvar o parasita e deixar morrer o doente, seu hospedeiro. Já imaginou o absurdo da situação? Pois bem, é o que vem acontecendo no nosso sistema de saúde pública. Veja as seguintes ocorrências, todas relatadas por médicos que heroicamente atuam na rede pública do DF:
1) Se você torcer o pé ou quebrar algum osso, provavelmente não conseguirá socorro nos hospitais públicos, pois não há ataduras para gesso.
2) Se uma mulher ficar grávida no DF, provavelmente terá dificuldade na maternidade, pois o protocolo manda que ela faça um teste de sífilis no pré-natal, mas não há reagente para fazer o exame.
3) Se um parente seu ficar muito doente e precisar de uma UTI, é bem possível que lá não receba os medicamentos adequados, pois andam faltando até os antibióticos mais básicos para ministrar.
4) Se uma moradora do DF procurar uma Unidade Básica de Saúde para fazer um exame preventivo de colo de útero, muito provavelmente não vai conseguir, pois a especialidade de ginecologista foi retirada dos “postinhos” e mandada para os hospitais, onde, por óbvio, não pode prestar cuidados preventivos. Ou seja, o sistema está organizado para que, de fato, uma mulher com câncer tratável tenha que esperar a doença agravar para poder ser atendida.
Iges-DF: má ideia
A nossa rede de saúde pública foi infectada por uma má ideia alguns anos atrás, ainda no governo Rollemberg, quando se criou o Instituto Hospital de Base, depois transformado em Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF). É uma organização autônoma, que é uma espécie esquisita de instituição privada, a quem foi dada a missão de administrar alguns de nossos hospitais.
Nascido em Rollemberg, o Iges-DF prosperou sob Ibaneis. Saiu de pequena larva a imensa lombriga. Sobrevive com dinheiro da Secretaria de Saúde. Gasta mal, é repleto de suspeitas de corrupção e ainda padece de gratificações e mordomias para seus dirigentes. Não consegue pagar as próprias despesas e já ostenta um rombo de mais de R$ 350 milhões.
O dinheiro terá que vir de quem lhe nutre, o orçamento da Secretaria de Saúde. Que, dessa forma, vai deixando para trás os hospitais, UBSs e demais unidades ainda sob sua administração.
Ou seja, como disse antes, o médico (Secretaria de Saúde) optou por salvar o parasita (Iges-DF) e deixar morrer o doente (a rede de saúde pública do DF). É possível?
Que há a infecção, até mesmo o governador Ibaneis Rocha já percebeu. Recentemente admitiu o caos na saúde e trocou o secretário. O novo responsável é o general Manoel Pafiadache. Que, por seu lado informou, ao assumir o posto, que precisava estudar o caso. “Uma missão difícil”, nas palavras dele.
Prover a rede de saúde pública com os insumos básicos para que dê assistência à população é a providência prioritária. Mas posso garantir que seria somente uma espécie de antitérmico para debelar o sintoma da infecção. É urgente, mas não vai acabar com a doença. Para isso, só atacando diretamente aquilo que é a causa de tudo: o parasita plantado no intestino da Saúde Pública, onde vem se nutrindo a deixando cada vez mais fraca.
Para ser direto: é preciso extinguir o Iges-DF imediatamente, separar a massa falida do orçamento da Secretaria de Saúde, como foi feito com os bancos no governo Fernando Henrique. Assim, vamos permitir que a saúde pública do DF recupere sua força e volte a tratar da população desde a atenção primária até o mais complexo procedimento da assistência. Sem isso, no absurdo estamos e nele ficaremos. Até que o parasita mate o paciente.