Um novo personagem faz parte, agora, do enredo na saúde pública do Distrito Federal: o general do Exército Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, anunciado para o cargo de secretário de Saúde do DF. A mudança ocorreu, segundo Ibaneis Rocha, porque é necessário “alguém que tenha um pouco mais de força no trato de união de equipes”.
Então, analisando o cenário e o que é preciso para recuperar a saúde do DF, imagino que o novo gestor da SES-DF tenha as habilidades estratégicas de um bom general frente a uma guerra [porque lutar pelo SUS é uma batalha]: sabedoria, perspicácia, capacidade de diálogo e, sobretudo, usando as palavras de Sun Tzu, autor do livro “A Arte da Guerra”, “aquele cujo soberano não interfere”.
O general, além da formação em administração hospitalar, ocupava a função de superintendente-executivo do Instituto de Cardiologia (ICDF) e já foi diretor administrativo do Instituto Hospital de Base do DF. O que, para o governador, configura “grande experiência na saúde pública do Distrito Federal”.
Há controvérsias. Contudo, como realista esperançoso que sou, torço para que a escolha de Ibaneis seja a acertada para, finalmente, retomarmos a Atenção Primária como prioridade e darmos fim ao IGES-DF, este buraco negro que suga da nossa saúde pública e, como consequência, dos nossos servidores e pacientes.
Além do anúncio do novo secretário, o GDF lançou o “Cartão Pequenos Reparos” para a área, que dará aos gestores de Saúde um crédito de até R$ 100 mil para obras – R$ 100 mil para os superintendentes e R$ 70 mil para os diretores de hospitais e das Unidades Básicas de Saúde (UBS). O cartão não vale para o IGES-DF.
Bonito na teoria. Um blefe na prática, pois apenas aumenta a verba do Programa de Descentralização Progressiva de Ações de Saúde (PDPAS) e não resolve a questão da falta de autonomia financeira e administrativa dos hospitais. Porque o novo organograma da Secretaria não abre espaço para diretores de hospitais, por exemplo, exercerem, de fato, os seus papeis.
Ainda entre as novidades na SES-DF, há outro anúncio que, caso não sejam criadas condições para a saúde pública funcionar, há grandes chances de ser mais uma cilada – vulgo marketing político: a contratação de 397 profissionais para reforço do atendimento à saúde.
Entre eles, 104 médicos, 64 enfermeiros obstetras, 39 enfermeiros de família e dois técnicos de hematologia e hemoterapia. É importante observar que o gargalo no que diz respeito a esses servidores é muito maior. E, sem valorização do servidor (com salários compatíveis aos cargos e desafios e o prometido reajuste salarial) e condições de trabalho (com equipamentos, medicamentos e insumos), o que acontece é que não há permanência e, muito menos, reposição efetiva.
Também dentro das mudanças urgentes e necessárias na gestão da SES-DF, quero ressaltar aqui, novamente, a postura do GDF sobre criação de novas UPAs. Este é um modelo que foca na atenção secundária/terciária: ou seja, emergências e hospitais.
A porta de entrada, que é a Atenção Primária, continua a ver navios, negligenciada por seguidos governos, incluindo o atual. O Converte, criado por Rollemberg, é um grave problema dentro da Atenção Primária: ele tira especialistas dos consultórios de postos de Saúde e, quando o cidadão é encaminhado para as UPAs ou hospitais, também não consegue acesso aos médicos, porque há déficit e porque o sistema, capenga, não favorece este encontro.
Ao general, que assume o desafio de recuperar a saúde pública do DF em um cenário de pandemia, desejo sabedoria e voz de comando com autonomia. E espero que ele esteja bem informado sobre os reais problemas na SES-DF, alguns citados aqui.
Que Manoel Luiz Narvaz Pafiadache seja, de fato, um general de guerra: experiente e sábio. E que nada disso seja apenas panfletagem. Saúde é coisa séria. E os militares sabem bem que, para vencer uma guerra, é preciso ter conhecimento do campo de batalha, da força de trabalho, dos recursos materiais e, sobretudo, coragem.